Boletim n°9 - Dez. 2004

UNICERJ forma onze Guias no sexto aniversário de fundação

Santa Cruz

Precisamente no dia 17 de abril de 2004, quando o nosso Clube de Montanhismo, Amador e Não Competitivo, completou seis anos de existência, diplomamos os mais novos Guias da UNICERJ, em uma belíssima festa realizada em Miraflores, Teresópolis.

A ETGE/2003 teve início em outubro de 2002, com 15 alunos inscritos. Desse total, onze alunos se formaram. Após um ano e meio de atividades teóricas e práticas, muitas caminhadas, escaladas, descidas, regrampeações, conquistas, acampamentos e travessias, culminando com um Estágio Supervisionado de seis meses, são estes os novos Guias formados pela Escola de Guias da UNICERJ:
- Bira (Ubirajara Sotelino Soares)
- Bonolo (Daniel Dellamora Bonolo)
- Carlos Alberto (Carlos Alberto Teixeira de Faria)
- Cela (Carlos Eduardo Lessa de Almeida)
- Celeste (Maria Celeste de Azevedo Lustosa)
- Clety (Clety Angulo Llerena)
- Fabio (Fabio Lattario Fonseca)
- Luis (Luis Fernando Brandão de Magalhães)
- Paulo (Paulo Sergio Coelho de Andrade)
- Porto (Felipe Porto Gonçalves)
- Rodrigo (Rodrigo Chauvet de Souza)

Um pouco de história

A fundação de um Clube, em especial de um Clube de Montanhismo, é um ato da vontade dos que acreditam no valor da sociedade organizada na prática de objetivos comuns. Constitui um gesto de esperança num futuro melhor e também é uma prerrogativa constitucional, consubstanciada no direito de livre associação que as democracias garantem aos seus cidadãos.

Quando a União de Caminhantes e Escaladores Rio de Janeiro (UNICERJ) foi fundada, em abril de 1998, todos os 14 sócios fundadores eram sócios do Centro Excursionista Rio de Janeiro (CERJ), embora não freqüentassem mais aquele Clube há vários anos. O CERJ foi fundado em Janeiro de 1939 com o nome de Clube Brasileiro de Excursionismo (CBE), inicialmente como uma dissidência do Centro Excursionista Brasileiro (CEB), o mais antigo Clube de Montanhismo do país, que surgiu em novembro de 1919.

Em 1943, em pleno Estado Novo, o termo Brasileiro passou a ser prerrogativa da União, e desse modo, por exigência do então Conselho Nacional de Desportos, os clubes de montanhismo tiveram que se enquadrar nessa disposição governamental. Desse modo o CBE passou a ser CERJ. Do mesmo modo o CEB adotou a denominação Centro dos Excursionistas, mais tarde voltando à denominação Centro Excursionista Brasileiro. Quanto ao CERJ, continuou sendo Clube Excursionista Rio de Janeiro, só passando a denominar-se Centro quando da aquisição da sede própria, em 1973, pois o Edifício São Borja, onde fica localizada a sede, por sua convenção, não admitia o funcionamento de um Clube em suas dependências. A diferençaentre Centro e Clube não é tão grande assim. O importante é o montanhismo que sempre se praticou nos Clubes e Centros Excursionistas como expressão máxima de liberdade, companheirismo e amor à natureza.

A UNICERJ, dentro de suas possibilidades, sem abrir mão de suas prerrogativas estatutárias, acredita que possa ajudar a dar continuidade, juntamente com os demais Clubes de Montanhismo, na difícil e altiva missão de promover a prática do Montanhismo Amador em nosso país.

Dez dos quatorze sócios fundadores da UNICERJ já eram Guias formados nas décadas de 1970 e 1980 no CERJ, onde tiveram atuação destacada, ajudando a fazer o CERJ brilhar no cenário montanhístico do Brasil, exercendo cargos de liderança, incluindo a Presidência e o Departamento Técnico em várias Diretorias.

No fim dos anos 80, a luta pela preservação dos valores do Montanhismo Amador levou a conflitos aparentemente inconciliáveis. Desse modo, em 1990, por amor ao CERJ, os montanhistas que mais tarde viriam a formar a UNICERJ, preferiram se afastar. Saímos de cabeça erguida, mas com a sensação do gosto amargo da derrota, pois nos acusaram de estar desagregando o CERJ. Isso doeu um bocado, pois prezávamos muito aquelas pessoas.

No livro que escrevi com Sayão, As Descidas Vertiginosas do Dedo de Deus, lançado em setembro de 1999, há uma dedicatória que sintetiza todo esse sentimento: “Ao C.E. Rio de Janeiro por tudo e apesar de tudo”.

Não cabe aqui analisar tudo o que ocorreu, mas posso assegurar que marcou profundamente a vida de cada uma dessas pessoas, que dedicaram o melhor de seus esforços, mas que de certa forma fracassaram.

José Saramago, o grande escritor português do nosso tempo, disse outro dia que o sucesso não é para sempre. Nem o fracasso. A vitória nunca é definitiva. É fugaz e se dissipa quando se pensa que a alcançamos, como a chegada ao cume de uma montanha. Por mais bela que seja a vista lá de cima, por mais que se possa amealhar tanta emoção, não podemos ficar lá para sempre e temos que descer para nossa vida em sociedade, nossos compromissos, para as pessoas a quem amamos. Vale dizer que nem sempre se alcança o cume e que não raro a descida é mais desafiadora e difícil do que a própria subida. Desse modo, essa idéia de vitória deve ser assimilada com muito cuidado, pois ela nunca é absoluta. Por outro lado, deve ser lembrado que a derrota também nunca é definitiva. A esperança renasce a cada tentativa, quando se põe o melhor de si no que se faz. É bem verdade que as bases precisam ser sólidas.

Por isso, foram necessários vários anos pensando em como organizar um Clube de Montanhismo verdadeiramente amador, autônomo e que dependesse exclusivamente dos sócios. Sem patrocínios, sem propagandas nem mecenas e muito menos apoio financeiro do Estado. Em outras palavras, um Clube que pudesse caminhar sempre com as próprias pernas, dispensando muletas e apoios, por vezes, espúrios. Na UNICERJ temos a nos guiar, verdadeiramente, os valores do Montanhismo Amador e Não Competitivo.

O mais notável de tudo isso é o fato de que esses valores de alguma forma permeavam, há algumas décadas, todos os Clubes de Montanhismo e o próprio Montanhismo foi chamado Esporte Diferente, por dispensar qualquer vestígio de competição na sua prática. Parece que isto foi há um milhão de anos, pois muitos veteranos abriram mão de seus valores, se é que os tinham. E os que mal iniciam no Montanhismo pensam que o Montanhismo é mais um esporte de competição. Desse modo, são lançados na fogueira das vaidades, numa corrida rumo ao vazio existencial de um niilismo grotesco e deprimente.

Camille Desmoulins (1760-1794) escreveu: “Sonhei uma República que todos teriam adorado. Não pude acreditar que os homens fossem tão cruéis e injustos”. Durante vários anos, os fundadores da UNICERJ pensaram em fundar um Clube de Montanhismo, mas não o fizeram de imediato. A idéia precisava primeiro amadurecer. Penso que, secretamente, todos acreditavam em voltar para o CERJ, o Clube que os formou, como montanhistas e cidadãos. Tal não se deu. É claro que se poderia voltar a freqüentar o CERJ e lutar pelo poder, pois todos continuavam sócios, mas essa idéia era totalmente desprovida de sentido.

Em novembro de 1997, os que viriam a fundar a UNICERJ mais Willy Chen, também sócio do CERJ, na época, divulgaram a Carta Aberta aos Montanhistas do Rio de Janeiro e à Sociedade, em que foram reafirmados os valores montanhísticos da nova Associação que estava para ser fundada. Posteriormente, foram divulgadas mais duas Cartas Abertas, em janeiro e abril de 1998. Hoje, as três Cartas Abertas constituem a base do ideário do nosso Clube, juntamente com o Estatuto.

O resto é história, que se escreve com trabalho, entusiasmo e fidelidade a um projeto coerente, aparentemente utópico, mas plenamente realizável, estruturado no ideário da UNICERJ, representado pelo MASENC – Montanhismo Amador, Solidário, Ecológico e Não Competitivo.

Quando da fundação éramos apenas 10 Guias num grupo de 14 pessoas. Hoje, após quatro Escolas de Guias concluídas, chegamos a 31 Guias num total de 125 sócios. Na UNICERJ nós formamos nossos Guias com técnica, ética, liderança, companheirismo e espírito público, pois temos consciência que o montanhismo não é um fim em si mesmo, e sim um meio de aproximar as pessoas permitindo a convivência sadia com a natureza e compromisso com a sociedade. Por tudo isso, temos motivos para regozijo e júbilo por mais uma Escola de Guias concluída com êxito. A ETGE/2003 requereu um esforço individual e coletivo ciclópico. Desse modo, gradativamente, começamos a colher os frutos de nossa semeadura. E vale dizer, estamos apenas no começo.

Na UNICERJ, a Escola de Guias é uma instituição permanente. A primeira Escola de Guias da UNICERJ começou com a fundação do nosso Clube e teve dez alunos inscritos, mas só conseguiu formar três Guias Caminhantes e Escaladores. Nos anos seguintes, organizamos mais duas Escolas de Guia, que formaram, respectivamente, seis e dois Guias. Desse modo, nas três primeiras Escolas de Guia formamos um total de onze Guias. Pois bem, na quarta, a ETGE/2003, sem perda de qualidade e com muita seriedade, conseguimos formar onze Guias. Ou seja, tantos Guias quanto nas três Escolas de Guia anteriores. Este fato é motivo de grande alegria para todos os unicerjenses.

Como foi a Festa de Formatura dos nossos Guias

A festa de formatura da ETGE/2003 durou dois dias e coincidiu com o 6º aniversário de fundação da UNICERJ.

O presidente Borges fez o discurso de abertura falando de modo compassado, como se escolhesse as palavras com todo o cuidado. Em realidade, aparentemente ele falava de improviso. Contudo nenhum de nós improvisamos coisa alguma. Simplesmente, deixamos extravasar nossos pensamentos e idéias em que acreditamos. Assim, sem ler texto algum previamente escrito, em Miraflores, compartilhávamos palavras e sentimentos que talvez estivessem escritos em nossos corações.

Todos que convivem com o Borges sabem o quanto ele é espontâneo e verdadeiro. Ele não foi diferente na abertura da solenidade. Contudo, como era de se esperar, recebemos naquele fim de semana em Miraflores muitos amigos, que trouxeram seus convidados. Por isso foi muito importante iniciar de um modo que mostrasse, invequivocamente, a importância transcendental de formar 11 Guias para o nosso Clube.

Christian, Vice-Presidente, também falou muito bonito, mostrando o quanto esta Escola de Guias envolveu todos no Clube, reafirmando a importância da união na concretização dos sonhos que ousamos sonhar.

Como Diretor Técnico, fui o terceiro e último da Diretoria do Clube a me dirigir aos presentes, parabenizando todos os sócios da UNICERJ e em especial os novos Guias pela garra e entusiasmo com que se dedicaram ao Curso, lembrando as dificuldades que tiveram que ser superadas no rigoroso Estágio Supervisionado, onde todos cumpriram com galhardia os objetivos previamente estabelecidos.

Passamos então a palavra aos novos Guias para que compartilhassem um pouco de suas experiências intensamente vividas na Escola de Guias.

Paulo Coelho foi o primeiro a se apresentar, contando muitos ‘causos’ pitorescos e engraçados das mais diversas excursões que participou, proporcionando sonoras gargalhadas pelo inusitado de algumas situações vivenciadas. Fez questão de agradecer aos Guias que o apoiaram para que pudesse completar o Estágio, marcando inclusive sucessivas excursões na serra entre um temporal de verão e outro. “É isso aí pessoal, deu tudo certo e eu estou muito feliz e emocionado de poder dizer a partir de hoje que faço parte do corpo de Guias da UNICERJ”.

Fabio foi o segundo a se apresentar. Ele contou como começou no montanhismo e da felicidade de fazer parte da UNICERJ. “Os fundadores da UNICERJ podem morrer, que já fizeram algo pela humanidade. O que se vê nesse Clube em termos de companheirismo, amizade e respeito mútuo não se vê em outro lugar. Quando comecei a praticar montanhismo eu achava que nunca seria um Guia. Guias para mim eram seres inatingíveis. E agora vejam só, eu estou me formando Guia. Graças à UNICERJ, que me mostrou o quanto essa atividade sublime de conduzir as pessoas pelas montanhas, pode ser desempenhada por qualquer ser humano que tenha responsabilidade e queira compartilhar sua existência. Espero agora guiar muitas excursões e ajudar a formar novos Guias para a UNICERJ”.

Celeste fez o seu depoimento, mantendo a emoção em alta. “Eu passei 30 anos de minha vida querendo escalar montanhas. Quando encontrei a UNICERJ descobri o melhor lugar do mundo para quem quer aprender a escalar montanhas, com técnica e ética. Quando, posteriormente, surgiu a possibilidade de cursar a Escola de Guias, abracei essa idéia com todo o fervor. Me dediquei bastante e sei que sou digna de receber o diploma de Guia, mesmo consciente que o aprendizado continua. É uma coisa permanente...” e prosseguiu Celeste profundamente emocionada “Quero deixar registrada a determinação, a amizade, a força e a união de todos os Diretores e Guias da UNICERJ para que essa Escola de Guias possa estar formando 11 Guias, num grupo que contava inicialmente com 15 alunos. Desde o começo, sabíamos que formávamos uma ETGE muito especial. Mesmo para os que não se formaram tenho certeza que valeu a pena, pelo aprendizado que ficou e principalmente pelo convívio fraterno. Todos nós tivemos a oportunidade de compartilhar respeito mútuo nas mais diversas e mirabolantes excursões e atividades da Escola de Guias. Tudo isso mostra que a UNICERJ está no caminho certo. Neste sentido posso assegurar: A Escola de Guias é uma lição permanente de generosidade”.

Bonolo fez o último discurso da noite para que pudéssemos começar a festa propriamente dita, com queijos e vinhos, música e dança, quando todos se divertiram a valer. Usando o computador do Bonolo e o telão do Zaib, tivemos também a exibição de fotos das mais diversas excursões realizadas pela ETGE/2003 ao longo de 18 meses, com destaque para a Serra dos Órgãos, Itatiaia, Salinas e Espírito Santo, sem contar as montanhas da cidade do Rio de Janeiro, é claro.

Bonolo, na ocasião, de todos os formandos era o único que já atuava como Diretor do Clube. Contou como conheceu a UNICERJ e disse que achou muito estranho, inicialmente, um Clube oferecer um Curso Básico sem cobrar qualquer taxa por isso: “Achei uma atitude um tanto suspeita pois hoje em dia só se fala em cobrar. Hoje, compreendo perfeitamente e defendo os motivos pelos quais os fundadores da UNICERJ estabeleceram o CBM e a ETGE como direitos dos sócios. De tantas experiências vividas, quero contar uma que tem a ver com o compromisso com a segurança nas excursões. Em meados de 2002, quando Fabio, Cela e eu concluímos o Curso Básico, fomos pedir ao Osvaldo que nos emprestasse uma corda do Clube para ir a um “simples” Campo-Escola. Ele não apenas não nos emprestou a corda, como ainda por cima deu uma bronca colossal na gente. Foi mais ou menos assim (ou pior): “Vocês querem uma corda do Clube? Para quê? Vocês não sabem coisa alguma! Acham que podem guiar alguma coisa só porque fizeram o CBM. No Curso Básico de Montanhismo aprende-se apenas os fundamentos e olhe lá. Os fundamentos são necessários, mas não são suficientes para se ir sozinho para uma montanha. Toda excursão precisa ser sempre liderada por um Guia. Para vocês tirarem uma corda do almoxarifado do Clube só fazendo a Escola de Guias, que inclusive vai começar em outubro. E mesmo assim só quando se formarem Guias”. Na época, nós não entendemos e achamos o discurso do Santa um pouco exagerado. O tempo passou e nós acabamos iniciando a Escola de Guias, vivemos uma série de novas experiências e hoje estamos aqui nos formando Guias. E eu quero reconhecer que o Osvaldo não podia mesmo nos emprestar a corda. Acho que posso falar pelos três: hoje temos consciência de que não sabíamos nada mesmo. Quem pensa que sabe muito só porque escala bem, ou pensa que escala bem, deve fazer a Escola de Guias e logo vai descobrir que deve passar por uma etapa de cada vez. É por tudo isso que hoje sou totalmente contra excursões particulares. Ainda mais que o Clube está formando onze Guias, portanto não há motivos para excursões particulares. A Escola de Guias representou muito para todos nós que hoje estamos nos formando”.

No dia seguinte, domingo, dia 18 de abril, chegou mais gente ainda. Tivemos um churrasco, comandado pelo Tarcisio, que se estendeu pelo dia todo, sem contar o banho de cachoeira.

Os depoimentos dos novos Guias prosseguiram com o Cela, que falou sobre Montanhismo e Cidadania e narrou a escalada do Pico Maior de Friburgo, como um momento de grande alegria pelas dificuldades envolvidas, pela imponência da montanha e também pela complexidade da descida. Cela contou também a escalada da Agulha do Diabo: “A chaminé da unha é um dos momentos mágicos daquela montanha. E quando se chega no topo, com tanta beleza à nossa volta, a sensação que temos é de alívio, prazer e felicidade, tudo ao mesmo tempo. Só tenho a agradecer ter podido cursar a Escola de Guias e a partir de hoje me comprometo, com o que for possível e no que for necessário, ajudar a UNICERJ a prosseguir na busca de novos desafios”.

Porto veio a seguir e disse que a Escola de Guias exigiu um ano e meio, quase dois anos de dedicação (se formos contar os meses que antecederam o início do Curso, quando a expectativa era grande). “Quero agradecer aos que ousaram dar esta Escola de Guias para tanta gente, duplicando inclusive muitas atividades para que todos os alunos pudessem ir na primeira fase a todos os lugares previstos, em Itatiaia, na Agulha do Diabo, na Cha. UNICERJ, no Par. Mario Arnaud, na Fis. Mariana, no Dedo de Deus e tantas outras montanhas. Depois, veio o Estágio de seis meses em que todo mundo, e não apenas nós, os Guias Estagiários, teve que se superar e hoje a gente está aqui se formando. Quero agradecer aos nossos Guias de verdade, aos nossos mestres de verdade, verdadeiros amigos, Guias morais, Guias espirituais e até mesmo Guias de Montanha”. Uau! Foi o comentário geral. Felipe Porto esteve realmente inspirado.

Bira foi o seguinte, e ao começar o seu relato lembrou os quatro alunos que iniciaram o Curso e não se formaram: Eduardo Silva, Joana Koiller, Mirta Diez e Rodrigo Mendonça. “Todos eles foram companheiros que nós gostaríamos muito que estivessem aqui conosco hoje para que pudessem se formar também. Mas a vida é assim mesmo e as excursões que fizemos juntos não serão esquecidas e a UNICERJ terá novas Escolas de Guias, quando poderão se formar”. Bira contou que ficou mais de 30 anos afastado do montanhismo. “Minha volta ao montanhismo através da UNICERJ, e mais especialmente esta Escola de Guias, me permitiram um reencontro comigo mesmo. Como todos os meus companheiros da ETGE/2003 estou muito feliz por me formar Guia. Sonho agora poder levar um dia meus filhos ao Dedo de Deus e sei que posso contar com os Guias desse Clube, que me acolheu como um verdadeiro amigo”.

Luís sucedeu ao Bira e detalhou todas as suas excursões pelo Estágio Supervisionado, com destaque para o Parque Estadual de Ibitipoca, que deixou boas recordações. “Eu sempre quis ser Guia Caminhante e agradeço a oportunidade oferecida pela UNICERJ de me tornar um ser humano mais completo, podendo ser útil à sociedade. Quero lutar para ajudar a manter espaço para a prática do montanhismo sem competição e me comprometo retribuir a esse Clube e aos seus sócios com o melhor do meu ser”.

Rodrigo veio em seguida. Falou pouco, pois muito do que ele pensava dizer já tinha sido mencionado pelos que o antecederam. De qualquer modo disse com grande originalidade que gostou tanto de cursar a Escola de Guias que esteve pensando seriamente em se reprovar de propósito, só para poder fazer a próxima ETGE. “Isso mesmo pessoal, pensei num dado momento em não me formar só para poder continuar como aluno, na próxima Escola de Guias. Aí eu vi que ia ser muito egoísmo de minha parte pois tiraria uma vaga de alguém que hoje talvez esteja se formando no Curso Básico. De qualquer forma, foi uma experiência marcante na minha vida. E como já disseram os demais, espero poder ajudar o Clube no que estiver ao meu alcance”.

Clety no seu discurso pleno de alegria, disse que foi seqüestrada pela UNICERJ. No bom sentido, é claro. Há tempos, ao chegar de Arequipa, Peru, ela e a Mônica Ari iam fazer uma excursão com um Guia profissional. O ponto de encontro era no Parque Lage e o objetivo era caminhar até o Corcovado. Acontece que o tal Guia profissional não apareceu ou chegou mais tarde. Nunca se irá saber. Coincidentemente, tinha uma excursão da UNICERJ para o mesmo local guiada pela Sonia. “Acabamos participando da excursão da UNICERJ. Só não tivemos que pagar, é claro. Na semana seguinte aceitamos o convite e visitamos a Sede. Fizemos mais algumas excursões e nos associamos ao Clube. E foi aí que descobrimos que fomos seqüestradas, adotadas e hoje fazemos parte da grande família que é a UNICERJ, onde aprendemos muito, não apenas como montanhistas e Guias mas também e principalmente, como seres humanos”. Clety lembrou a primeira excursão da ETGE/2003, em outubro de 2002, aquele mundão de gente escalando o Capacete, lá em Salinas. “Penso que esse Clube já tem uma história. Uma história muito bonita. É para continuar gente! E com muita união”. Carlos Alberto foi o último a chegar para a festa. Ele demorou tanto que o Fabio já tinha ido embora por causa de compromissos com os seus pais.

Carlos Alberto chegou sozinho e foi o 100° a assinar o livro de presença. Na verdade ele foi o 101° e último a chegar, pois descobrimos depois que o filho do Christian, Daniel tinha esquecido de assinar. Carlos Alberto contou que inicialmente queria fazer o Curso para Guia Escalador, depois viu que como Guia Caminhante também podia ajudar o Clube. “Uma coisa posso assegurar a vocês: A Escola de Guias é uma verdadeira Escola. É um curso que requer muita união e muito companheirismo. Quem não tem esse companheirismo precisa primeiro descobrir que ele ainda é possível, mesmo num mundo tão competitivo como o que a gente vive”. Vale dizer que o Carlos Alberto não tinha presenciado nem ouvido nenhum dos pronunciamentos dos demais formandos, pois chegou quando a Clety estava terminando de falar. Desse modo ele acabou dizendo coisas que já tinham sido ditas, mas sempre num modo muito próprio e pessoal. “Se eu tivesse que fazer a Escola de Guias de novo eu faria com o maior prazer. Todos nós que estamos nos formando por esta Escola de Guias nos orgulhamos muito de termos sido alunos da ETGE/2003. E agora não mais como alunos, nem como Guias Estagiários, mas como Guias formados queremos ajudar a difundir essa filosofia tão bonita da nossa UNICERJ”.

Carlos Alberto estava entusiasmado. Ele tinha acabado de chegar e queria mais. Contudo, já estávamos no fim da tarde de domingo e algumas pessoas já se preparavam para voltar para o Rio de Janeiro. Mas faltava a diplomação dos novos Guias, um gesto simbólico com um significado muito importante, como ocorre em todas as formaturas. Parecia uma mera formalidade, mas ultrapassou tudo que imaginávamos, atingindo um nível de paroxismo quando se fez ouvir o Hino Nacional, cantado a plenos pulmões por todos os presentes, inclusive pelas crianças que participaram ativamente da solenidade, auspiciosos elos que nos ligarão ao futuro. A cada Diploma entregue pelos Guias antigos aos novos Guias gestos de contentamento, risos, abraços apertados e muita emoção.

Muitas pessoas foram às lágrimas. Lágrimas de alegria. Foi um momento mágico e indelével em nossas vidas que não será esquecido enquanto vivermos.

Agora em outubro de 2004, quando iniciamos um nova Escola de Guias estamos conscientesdos desafios que se descortinam a nossa frente. Precisamos organizar o nosso Clube e dar continuidade à formação de Guias. A ETGE/2005 deverá prosseguir até abril de 2006 e formar uma nova turma de Guias, quando nosso Clube estiver completando oito anos de existência. Até lá, vai ser um longo caminho de trabalho, perseverança e união em torno dos valores defendidos e praticados pela UNICERJ.

A ETGE/2005 será constituída de três fases:

1ª fase: de outubro de 2004 a março de 2005: uma excursão exclusiva por mês + cinco excursões normais + três atividades na sede
2ª fase: de abril de 2005 a setembro de 2005: duas excursões exclusivas por mês + dez excursões normais + três atividades na sede
3ª fase: de outubro de 2005 a abril de 2006: Estágio Supervisionado

Estas são as Excursões da 1ª fase exclusivas aos alunos da ETGE/2005:
- 23 e 24 de outubro de 2004: Salinas, acampamento com escaladas variadas
- 20 de novembro de 2004: Pedra da Gávea
- 12 de dezembro de 2004: Pão de Açúcar, Cha. Stop
- 16 de janeiro de 2005: Dedo de Deus, Via Teixeira
- 26 de fevereiro de 2005: Alto Mourão, Par. Osvaldo Pereira
- 26 e 27 de março de 2005: Tra. Petrópolis-Teresópolis

Alunos da ETGE/2005:
- André da Silva Favre
- Clair de Carvalho Pessanha
- François Carvalho de Paiva
- Guilherme Mocellin Selles
- Marcia Clements Lins
- Osiris Gopfert Moreira
- Sergio Marques D'Oliveira
- Thiago Rocha Haussig



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