Conquista da UNICERJ no Pico do Itabira
Dia 21 de agosto de 2005, após uma verdadeira odisséia de mais de quatro anos e quinze investidas, foi concluída a conquista da Cha. Edilso Debarba no Pico do Itabira, montanha imponente que domina a cidade de Cachoeiro do Itapemirim, no Espírito Santo.
Trata-se de uma escalada muito difícil, com cerca de 500 metros de extensão, que exigiu o maior dos esforços de todas as treze pessoas que participaram deste audacioso projeto.
Há mais de vinte anos temos investido em conquistas no Espírito Santo, estado que possui regiões de rara beleza e com grande potencial montanhístico.
Hoje já são dezenas de conquistas da UNICERJ nessa região do Brasil tão hospitaleira, onde temos encontrado verdadeiros amigos, que sempre nos recebem como se fôssemos uma só família de montanhistas.
Ao longo desse tempo, algumas dessas conquistas tornaram-se clássicas:
- Cha. UNICERJ (1988)
- Via Graciliano Ramos (1994)
- Des. Sérgio Carvalho (1994)
- Des. Valdecir Bento (1995)
- Agulhinha Juliana (2000)
- Des. Filipe Alvarenga (2000)
- Des. Estrela do Norte (2000)
- Cha. Ricardo Borges (2001)
- Des. Sônia Perrone (2001)
- Par. Ana Elizia (2002)
- Par. Alzira Palomba (2003)
- Des. Oscar Niemeyer (2004)
Não era nova a idéia de fazermos uma conquista no Pico do Itabira. Esta montanha foi conquistada pelo CERJ em 1947 por Sylvio Mendes e seus heróicos companheiros, numa época em que os recursos técnicos eram ainda muito rudimentares, mas o companheirismo, a paixão pelo montanhismo e o trabalho em equipe legaram, a todos nós, feitos insofismáveis.
Acontece que a Via Original do Pico do Itabira não foi devidamente preservada. Além disso, é uma escalada que segue uma face da montanha excessivamente exposta ao sol, que é, como todos sabem, muito intenso no Espírito Santo.
Nos anos 50, o CEC conquistou uma nova via, a belíssima Chaminé Cachoeiro, que em boa medida evita a insolação permanente da Via Original. Foi por esta via que escalamos o Itabira, no inverno de 1998, logo após fundarmos a UNICERJ.
Na ocasião, como muitos outros montanhistas já tinham feito antes, fizemos alguns melhoramentos de regrampeação e inclusive uma nova via de descida, evitando os lances horizontais do início da escalada. Trata-se da Des. Amigo da Onça.
Infelizmente, nossa iniciativa foi interpretada por alguns como uma desfiguração da escalada, quando visava unicamente preservá-la e torná-la mais segura, inclusive com a duplicação dos grampos de descida.
Posteriormente ficamos sabendo que muitos desses grampos tinham sido arrancados, tornando ao nosso ver, a Cha. Cachoeiro uma escalada temerária.
De fato, desde então, quase ninguém mais subiu ao cume do Itabira, como pode ser constatado no velho Livro de Cume que lá existe.
Foi nessa época que decidimos iniciar uma nova conquista, que não fosse tão exposta ao sol quanto a Via Original e que também tivesse um padrão de segurança que julgamos aceitável.
Nós tínhamos consciência que ia ser um empreendimento tecnicamente desafiador.
Contornando a montanha, descobrimos que a face sudeste era a ideal, por ser aquela onde o sol ataca com menor intensidade. Ao chegarmos lá, ficamos entusiasmados quando vimos o sistema de fendas, fissuras e chaminés totalmente independentes das demais vias já conquistadas no Itabira. Além disso, a gigantesca chaminé prosseguia até o cume, centenas de metros acima.
Lembro-me perfeitamente de Valdecir comentando que até já havia começado uma conquista no local, mas não sabia se valeria a pena continuar.
Nesse dia, nós havíamos decidido esquecer para sempre a sauna implacável da Via Original e os riscos desnecessários que teríamos que nos submeter para subir e, principalmente, descer pela Cha. Cachoeiro. Isso nos fez aceitar os desafios da nova conquista.
A partir de então, foram muitas investidas nas várias viagens ao Espírito Santo que fizemos desde 2003, quando participamos da nossa primeira investida.
Edilso propôs que a escalada viesse a se chamar Machado de Assis e todos concordamos. Mas aos poucos fomos ficando cada vez mais entusiasmados com a beleza e dificuldade extrema da via e descobrimos que o nome da escalada não poderia ser outro que não o do próprio Edilso. Durante todo o tempo ele não tinha a menor idéia e só ficou sabendo no dia da conquista, no cume do Itabira.
No futuro, pretendemos fazer uma via em homenagem à Machado de Assis, que também merece. Mas esta magistral escalada é um presente da UNICERJ ao nosso amigo de tantas excursões e conquistas. Esta conquista do Pico Itabira se chama Chaminé Edilso Debarba.
Santa Cruz