Busca
 
 

Fale conosco! fale conosco!

Calendário



« DESTAQUES »

Formatura do CBM/2023

NOTA DE REPÚDIO

Carta ao PARNASO

CURSOS

As Descidas Vertiginosas do Dedo de Deus (2a Edição)

Carta Aberta aos Montanhistas do Rio de Janeiro e à Sociedade

Diretoria e Corpo de Guias

Equipamento individual básico

Recomendações aos Novos Sócios

2ª Carta Aberta aos Montanhistas do Rio de Janeiro e à Sociedade



Quinta-feira, 25 de abril de 2024

Você está em: BoletinsBoletim n°11 - Dez. 2006
Boletim n°11 - Dez. 2006
Livro de Cume‹‹ anterior 
|
 próxima ››Escola Técnica de Guias Excursionistas

Viagem ao Coração do Brasil

Creio ser impossível ler o clássico “Viagem ao Centro da Terra” de Júlio Verne, sem ficar impactado. Desde 1864, quando foi lançada, esta obra vem marcando profundamente e imprimindo o gosto pela aventura a sucessivas gerações de crianças e adolescentes, entre os quais me incluo. A possibilidade de descobrir novos mundos e horizontes a partir da exploração do nosso próprio planeta passou a fazer parte dos meus sonhos e projetos de vida desde que o li. Mas foi a partir do momento em que a Unicerj passou a ser parte da minha vida, que este sonho se tornou realidade e o que era projeto passou a ser vivência. Portanto, não foi à toa que a lembrança da obra de Júlio Verne foi a primeira coisa que me veio à mente quando me foi solicitado que escrevesse um texto sobre a excursão que fizemos à Pirenópolis, no Carnaval de 2006.

Explorar esta região, que não fica no “Centro da Terra”, mas no “Coração do Brasil”, teve para mim um gosto muito parecido com as sensações que me foram despertadas ao ler o livro. Na história de Júlio Verne, o jovem Axel e seu tio, o professor Lidenbrock, guiados pelo caçador islandês - Hans, partem rumo ao centro da Terra. Em nossa expedição ao coração do Brasil, identificamos no papel de Axel - eu, Marina e Cesar; no papel do Professor Lidenbrock - François, Willy e Bonolo e no papel de Hans - o Guia local, Mauro Cruz. Em ambas as histórias, o restante foi só aventura...

Situado no coração do Brasil, o estado do Goiás foi fundado no começo do século XVIII por Bandeirantes que chegaram a suas terras em busca do precioso ouro que brotava ali. Distante do mar, mas detentor de valiosas fontes de águas salgadas e sulfurosas, o Estado guarda em suas cidades as marcas deixadas pela época em que a região prosperou devido à riqueza de suas minas, o ciclo do ouro do período colonial. (1)

No centro do continente sul-americano, a milhares de quilômetros do litoral, podemos dividir este imenso território em duas partes: O Planalto e o Mato-Grosso- Goiano. O Planalto é uma região do tipo savana, com clima bem definido em duas estações, as chuvas e as secas, e conhecido pelos índios tupis e tapuias como “terras altas”. O Mato-grosso-goiano são as “terras baixas”, composto por vãos e nascentes dos caudalosos rios Tocantins e Araguaia.

Esta conformação topográfica definiu bem a colonização nestas áreas antes do descobrimento do ouro. Os rios eram as vias de comunicação da época, portanto as incursões pelos rios Araguaia e Tocantins eram mais freqüentes que as excursões por terra pelo Planalto. Pirenópolis está no limite destes dois relevos. Está ao pé da Serra dos Pireneus, nas margens e próximo as nascentes do Rio das Almas, tributário do Rio Tocantins. Por estar próximo às nascentes, portanto de difícil navegação, chegava- se sempre por terra, tanto os indígenas como os europeus
(2). Assim chegamos nós.

Saímos sábado de Brasília com destino a Pirenópolis, que é uma linda cidade histórica que guarda as marcas deste ciclo do ouro. Conhecemos a cidade e pernoitamos no Mosteiro Zen Budista Horyu Zan Eisho-Ji. Este mosteiro se situa numa região privilegiada pela quantidade imensa de nascentes. Lá foi organizado um circuito de oito cachoeiras, cada uma delas dedicada a um dragão. Cada dragão significa um degrau na trajetória evolutiva, rumo à iluminação. Fizemos todo o circuito das Cachoeiras dos Dragões, nos banhando em cada uma delas.

A seguir partimos para a Cidade de Pedra, com acampamento no meio do caminho e uma noite digna do lábaro estrelado que nosso país ostenta. A cidade de pedra é um sítio geológico com formações muito estranhas. Às vezes as formas são familiares, como uma reprodução do Coliseu ou de um dinossauro. Outras são assustadoras, como monstros extraterrestres. Ali realmente, me transportei para várias cenas de Júlio Verne. Parecia que estávamos naquele mundo paralelo no centro da Terra. Pensei que a qualquer momento poderíamos encontrar um oceano ou a entrada de algum vulcão por onde poderíamos ser ejetados para outra parte do planeta.

Por outro lado, aprendi muito. A integração harmônica e a síntese entre os conhecimentos técnicos, teóricos e práticos, de nossos Guias acrescidos com o conhecimento do Mauro, foram a realização de tudo que eu havia aprendido no CBM. Ou seja, pude aplicar conhecimentos adquiridos no curso, praticando o montanhismo em sua essência e me senti muito orgulhosa dos nossos Guias ao observar o respeito que despertaram nos outros guias locais que encontramos naqueles três dias (sábado a segunda-feira).

O Mauro Cruz, nosso “Hans”, nos conduziu durante todo o trajeto - grande companheiro! Profundo conhecedor da história, geografia, geologia e principalmente da vegetação típica do cerrado, nos proporcionou inesquecíveis aulas. Para mim o ponto alto da excursão foi obviamente, um cume... Inesquecível a vista do cume da Serra dos Pireneus. Neste dia (28 de fevereiro, terça-feira) percorremos 17 quilômetros, com direito a dois cumes (Pico dos Pireneus e Morro Cabeludo). O que não estava previsto foi um ataque de marimbondos que sofremos no Morro Cabeludo. E aí, tenho que destacar a fibra do François que resistiu à dor das picadas dos insetos para socorrer Marina e Bonolo, que haviam sido atacados antes. Depois disto nos recuperamos com um banho refrescante no Poço do Sonrisal - e o nome deste poço diz tudo.

Ao final de tudo fica a mesma sensação de satisfação e de realização buscada por cada aventureiro desde o tempo das grandes descobertas - a mesma que impulsionou o jovem Axel, o Prof. Lidenbrock e Hans. Mas fica também a reflexão sobre a felicidade de poder viver em um país livre, rico de recursos naturais, e soberano sobre a utilização destes recursos. Cabe a nós zelar pela preservação destas riquezas e pela manutenção desta soberania.


Célia Caldas


1 Fonte: http://www.braziltour.com/site/br/destinos_roteiros/lista.php? id_estado=9&regioes=5&estados=0&cidades=0
2 Fonte: http://www.pirenopolis.tur.br/


Livro de Cume‹‹ anterior 
|
 próxima ››Escola Técnica de Guias Excursionistas

Versão para impressão: