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Sábado, 20 de abril de 2024

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Boletim n°11 - Dez. 2006
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Urbanóides na Montanha

Caroline Gregory

Costumo dizer que se o mundo funcionasse como a Unicerj grande parte de seus problemas acabariam. Imagine um bar aberto. Ao lado da geladeira, a caixinha de dinheiro e os preços de cada item. Não há ninguém para cobrar. Cada um deposita o valor de seu consumo. Imagine um clube de excursões no qual os Guias dedicam seus fins de semana, férias e feriados ao Clube por puro amor à montanha. Imagine um Clube que oferece o Curso Básico de Montanhismo e a Escola Técnica de Guias Excursionistas como direito de todo e qualquer um de seus membros sem acréscimo na mensalidade. Imagine uma mensalidade de R$20,00 oferecendo todas as excursões organizadas, cursos, aulas teóricas e técnicas, equipamentos emprestados e reuniões sociais. Assim funciona a Unicerj. E funciona muito bem, diga-se de passagem, pois desde sua fundação o número de sócios cresce a cada semana. E a caixinha de dinheiro no bar está sempre cheia.

O estilo urbano de vida não permite que ajamos pura e simplesmente através da ética, mas, por uma suposta obrigação e pela freqüente ameaça dos juros, taxas e multas. É compreensível que em tal contexto o espírito se apague e a subjetividade se esconda gradativamente. O trabalho perde o prazer da produção e ganha o espaço de necessidade burocrática e financeira. Aos poucos, perdemos nossas individualidades e nos tornamos mais um entre bilhões.

A Unicerj surge como uma luz à apatia, um brilho na escuridão provando que podemos, sim, viver em harmonia com nosso espírito e corpo, trabalho e lazer, riscos e preguiça. As lições do montanhismo se aplicam nas mais diversas áreas da minha vida e na daqueles que se tornaram vítimas indefectíveis da filosofia MASENC (Montanhismo Amador Solidário Ecológico e Não Competitivo).

Guias e diretores trabalham com o objetivo de democratizar o montanhismo, acreditando que é um direito de todo cidadão aprender e praticar o esporte, além de ser um direito de todos conviver com a natureza. Os Guias e Diretores pagam a mesma mensalidade que os demais sócios e não recebem nenhum retorno financeiro pelas excursões e aulas que promovem.

No montanhismo, o companheirismo e a solidariedade são imprescindíveis. Na escalada, por exemplo, é preciso haver total confiança no outro, pois, enquanto você escala o parceiro fornece sua segurança e vice versa. Se você cair, são as mãos dele que te salvam.

O montanhismo, em sua natureza, é solidário, sendo primordial a troca com o outro para co-existir. Essa troca, no entanto, é trabalhada dia após dia, montanha após montanha. É fundamental aprender a ouvir as necessidades do outro, entender seus limites, respeitar suas dificuldades e estar sempre com um olho em você e o outro no seu companheiro.

Não obstante, a Unicerj funciona intrinsecamente ligada à preservação do Meio Ambiente. É conduta de todos os membros não sujar os parques freqüentados, além de causar o menor impacto possível à vegetação local e acampar em locais apropriados. Mantemos nossas conquistas sempre em condições de uso adequadas para a maior segurança de todos os cidadãos que por ali desejem passar.

O montanhismo é uma atividade que envolve riscos. Tais riscos podem ser minimizados pela rigorosa atenção aos procedimentos de segurança. Por outro lado, tensão física e/ou tensão psicológica são freqüentes. É por isso que a união, o companheirismo e a solidariedade são valores necessários à esta prática. Qualquer distinção social, cultural ou étnica é essencialmente incompatível com o montanhismo.

Enquanto no mundo urbanizado respeito é sinônimo de hierarquia, na montanha aprendemos a respeitar pela experiência. Na pedra ou no verde, advogados e garis riem da mesma piada e desfrutam do mesmo lazer. As lições, as repreensões e as técnicas são passadas respeitando as limitações. Todos sentem seu progresso sem pressa de bater recordes, sem o ímpeto de ser o primeiro, mas, com a vontade de ser o melhor que puder. É nos passado a possibilidade de construirmos um mundo melhor, menos capitalista, mais justo, menos hipócrita, mais voltado para o homem e seus valores, menos competitivo e mais ativo.

A prática desses valores na montanha nos torna seres humanos mais preparados para enfrentar a metrópole, as contas, as cobranças, o trânsito e conviver com o outro. Resgatamos nossas individualidades. Se a Unicerj ainda não mudou o mundo, certamente já mudou sua aldeia.


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