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Escalavrado para TODOS

Rio de Janeiro, 11 de dezembro de 1997

Livro de cume do Escalavrado
Christian & Santa Cruz

O Escalavrado foi conquistado há mais de 60 anos. Nesse período a via original sofreu modificações naturais que exigiram melhor proteção para os montanhistas (qualquer um que escale há mais tempo sabe que havia muito mais vegetação, arbustos inclusive, o que permitia boa segurança nas subidas e descidas).

A rampa da via normal do Escalavrado é muito fácil e tranquila, mas num súbito temporal ou mesmo num simples acidente, pode tornar-se extremamente perigosa.

Em 1983 o Paredão Hélio Paz foi conquistado. Seus primeiros esticões passaram a constituir o início da via para a maioria dos montanhistas. Na ocasião, várias vezes encontramos grampos (do Paredão Hélio Paz) arrancados, quebrados ou amassados. Pois bem, não esmorecemos: voltamos e batemos os grampos tantas vezes quanto foi necessário bater. Então os amassadores de grampos sossegaram.

Em 1989 foram conquistadas as Variantes Thales de Garcia e Chatron Backes. Também foram batidos grampos para melhor proteger a via normal do Escalavrado. Batemos inclusive grampos novos ao lado de antiquíssimos e precários pés de galinha, originais da conquista. Deixamos os grampos pés de galinha originais em respeito aos conquistadores e também para que as novas gerações pudessem comparar os grampos antigos, com os atuais muito mais seguros.

Lamentavelmente, num ímpeto de soberba e arrogância de alguns, os grampos novos foram amassados, arrancados e/ou quebrados (alguns dos grampos amassados ainda podem ser vistos em locais do Escalavrado). Assim, não restou outra alternativa à de bater novos grampos nos mesmos locais e arrancar os precários grampos originais, que já estavam na hora de ser substituídos. Fizemos isto nos meses seguintes e desde o final de 1989 que não se arrancam, amassam ou quebram grampos no Escalavrado.

De lá para cá, esses grampos têm sido usados por muitos excursionistas, garantindo a vida e a segurança de todos aqueles que ainda não perderam a dimensão humana do montanhismo. Agora, passados oito anos, voltamos a ouvir ameaças que grampos serão retirados no Escalavrado. Não temos palavras para descrever a irresponsabilidade de tal atitude. Não compactuaremos com tal decisão sob nenhum argumento.

Acidentes acontecem em lugares simples como o Escalavrado. Muitas são as pessoas que sobem um cume da Serra dos Órgãos pela primeira vez nesta montanha. Pois bem: é em respeito a todos os montanhistas em geral e aos novatos em particular e também ao ecossistema do Escalavrado que garantiremos sempre grampos de segurança no Escalavrado.




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