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Sábado, 20 de abril de 2024

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Boletim n°13 - Dez. 2008
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Mais Seis Guias para a Unicerj no 10° Aniversário de Fundação

No dia 17 de abril de 2008 a Unicerj completou dez anos de fundação. Comemoramos a data na sede do Clube, que ficou lotada com a presença de mais de 60 pessoas que estiveram na reunião social, pois, coincidentemente, neste ano, o aniversário do Clube caiu numa quinta-feira. Esta foi uma festa muito bonita que antecedeu a celebração maior dos dias 19, 20 e 21 de abril em Miraflores.

Nesse fim de semana, prolongado pelo feriado de Tiradentes, ocorreram diversas atividades envolvendo a formatura de mais um CBM, bem como da ETGE/2007 - a sexta Escola de Guias oferecida pela Unicerj desde a sua fundação, em 1998. Reunimos 85 pessoas em Miraflores para comemorar a nossa união, rememorar antigas histórias e planejar o futuro do nosso Clube.

Tivemos também queijos e vinhos na noite de sábado, churrasco no domingo, com projeções de filmes à noite, banho de cachoeira na segunda-feira, bem como as solenidades de formatura da ETGE e do CBM, que são sempre muito emocionantes, pelo que se compartilha nessas ocasiões.

A ETGE/2007 teve início em outubro de 2006 com oito alunos. Desse total, seis Guias foram formados, após um ano e meio de intensas atividades:

Guia Caminhante:
- Nataniel Carvalho Luz (Natan)

Guias Caminhantes e Escaladores:
- Gabriela Alejandra Huamán Pino
- André Loeblein Kaercher
- Marina de Andrade Iguatemy
- Rafael Augusto do Couto Albuquerque
- Eduardo dos Santos Terra

No Estágio Supervisionado, a terceira e última fase da ETGE/2007, ocorrida de outubro de 2007 a abril de 2008, os novos Guias da Unicerj conduziram um total de 96 excursões, listadas a seguir. Todas essas excursões, abertas no Clube para sócios e convidados, contaram sempre com a presença de Guias formados atuando como Supervisores, imprescindíveis no acompanhamento dos novos Guias que hoje, já formados, estão aptos a conduzir excursões do nosso Clube, com segurança, dentro da filosofia MASENC.

Durante os vários dias de festas em Miraflores tivemos os depoimentos dos seis novos Guias da Unicerj que, como ocorre tradicionalmente, fizeram seus memoriais.

Kaercher foi o primeiro dos novos Guias a apresentar o seu memorial lembrando-se que, mesmo com pouco tempo de Clube, foi aceito como aluno da ETGE/2007:

"As coisas boas passam rápido. A primeira atividade prevista para a nossa Escola de Guias deveria ter sido uma excursão de dois dias no Paredão Unidade Latino-Americana. Acontece que choveu e nós fomos fazer duas caminhadas: no sábado, à Torre Central de Bonsucesso e, no domingo, ao Morro das Antas. Nessa segunda excursão aconteceram alguns contratempos para mim. Acabei com a minha água na metade da subida e aí levei uma bronca do Leo, que disse: 'Espero que você tenha trazido mais água.' Choveu, fez muito frio, cortei o dedo e devo ter caído umas vinte vezes. Tudo isso acabou me mostrando que eu tinha muito que aprender.

Outra excursão marcante para mim foi o Dedo de Deus, uma montanha que eu sempre sonhei escalar. Nas duas primeiras fases da Escola de Guias, nós alunos apenas tínhamos que participar das atividades, pois os Guias organizavam, decidiam e guiavam todas as excursões. Na terceira fase, com o Estágio Supervisionado, foi que vimos o quanto é difícil se formar Guia, pois tivemos que tomar todas as iniciativas e liderar as excursões desde o planejamento, passando pela excursão em si, até a redação do relatório. Voltando ao Dedo de Deus, deixo aqui registrado a minha emoção, pois é uma montanha verdadeiramente clássica, que tive a alegria de guiar no meu estágio.

Não posso deixar de mencionar as excursões realizadas no Espírito Santo, onde fomos recebidos por pessoas muito especiais como Valdecir e Edilso, que foram muito importantes na nossa formação. Edilso, além de escalar muito, prepara uma comida deliciosa.

Quando começou o Estágio Supervisionado, fui fazendo as minhas excursões, até que chegou a Via dos Italianos, que eu nunca tinha feito. Na base, o tempo estava ameaçador e cheguei a pensar: 'Será que vou conseguir?'. No fim, acabou dando tudo certo. Quanto à Travessia Petrópolis-Teresópolis, acabei fazendo duas no meu Estágio. Como sempre, tivemos que superar grandes dificuldades, mas valeu a pena. Fiquei feliz também por fazer o Paredão José Kayan como Guia Estagiário. Já tínhamos ido lá várias vezes pela Escola de Guias durante a conquista e regrampeações e foi muito emocionante voltar lá para fazer a escalada toda. Minha última excursão do Estágio Supervisionado foi também muito desafiadora: o bivaque no Platô da Íbis. A escalada foi muito demorada e nós só conseguimos chegar lá às 23 horas. Deu muito trabalho, mas todos gostaram.

Tem muitas outras excursões da Escola de Guias que foram marcantes, mas as que eu citei foram as que eu escolhi para contar a vocês."

Terra foi o segundo a contar um pouco do que foi a ETGE/2007:

"Quero falar não só da minha Escola de Guias, mas também do que tenho vivido e convivido no Clube, desde a minha primeira excursão, ainda como convidado. Esta excursão foi uma Travessia Petrópolis-Teresópolis, que não chegamos a completar devido ao mau tempo. Chovia bastante quando, após um dia de caminhada, chegamos ao local de acampamento, no Vale do Paraíso. O tempo estava péssimo, mas os Guias encaravam esse contratempo, terrível para mim, como a coisa mais normal do mundo. Durante a noite, o tempo não melhorou e, quando amanheceu, os Guias decidiram que não valeria a pena prosseguir com tantos novatos como eu na excursão. Assim, todos nós voltamos para Petrópolis. Sábia decisão! Apesar de não havermos completado a travessia, deu para perceber como a excursão foi bem planejada e conduzida com alta qualidade, apesar das péssimas condições meteorológicas. Alta qualidade com dedicação a toda prova e sem qualquer interesse financeiro. A taxa da excursão era praticamente só a despesa das vans e o ingresso do Parque Nacional da Serra dos Órgãos.

Aí eu me perguntava: 'como é que Guias que não ganham nada conseguem conduzir tão bem uma atividade tão complexa do ponto de vista logístico e humano?' Afinal, os Guias precisam tomar decisões que visem à segurança do grupo e o bom relacionamento entre os participantes. Aí eu pensei: 'é isso que eu quero para mim. Como é que se faz para se tornar um Guia?' Ao me associar ao Clube, fiquei sabendo que a Unicerj forma seus próprios Guias e que a Escola de Guias é um direito dos sócios. Cela, que me trouxe para o Clube e tinha me convidado para aquela travessia, me disse: 'Antes de pensar em fazer a Escola de Guias, você precisa primeiro ganhar experiência. O CBM é um bom começo'. Então, me inscrevi e logo de cara fomos para o Parque Nacional do Itatiaia, com direito a pernoite no Abrigo Rebouças. Fiquei maravilhado. Pela magia do lugar em si e também pelo companheirismo e camaradagem naquele fim de semana que nunca vou esquecer. No segundo dia da excursão, no Campo Escola Fernando Pessoa, do outro lado das Agulhas Negras, me chamaram para escalar e logo em seguida para bater um grampo. E eu estava apenas começando. Depois vieram muitas excursões que iam me trazendo a vivência necessária para vir a cursar a Escola de Guias.

Aos poucos o sonho ia ficando mais próximo. Foi durante o CBM, nas conversas com os Guias e os sócios mais antigos do Clube, que eu fui descobrindo a essência da Unicerj. Ela está ali, mas é difícil perceber. É muito mais do que fazer travessias, escaladas e conquistas. Fiz o CBM e participei de muitas excursões. Quando foram abertas as inscrições para a Escola de Guias, eu continuava entusiasmado com a possibilidade de me tornar Guia e, acredito, já tinha consciência da grande responsabilidade de um Guia numa excursão.

Em setembro de 2006, houve uma reunião na sede, aberta a todos os sócios do Clube, visando desencadear o processo de seleção dos interessados em fazer a ETGE/2007, que ia começar no mês seguinte. Logo de cara, nos deram um questionário que cada um de nós deveria preencher. Mas não era um questionário qualquer. Havia algumas perguntas que mesmo hoje eu teria dificuldades para responder. Aí eu pensava: 'o que esses caras querem que eu escreva aqui?' Percebi que o Clube espera de cada um dos futuros alunos da Escola de Guias um comprometimento muito sério. Havia cerca de vinte candidatos para as oito vagas oferecidas para a ETGE/2007 e eu fiquei muito feliz e honrado por ter sido aceito como candidato a Guia Caminhante e Escalador. Os Guias do Clube devem ter visto um potencial em mim.

Ainda descobrindo a essência do Clube, iniciei junto aos meus companheiros a ETGE/2007. Eu estava entusiasmado e confesso que achava que não teria dificuldades em fazer o curso. Aos poucos fui descobrindo que uma Escola de Guias é bastante exigente e vai ficando mais difícil à medida que o curso avança. Na segunda fase, iniciada em abril de 2007, começaram as excursões maiores e mais desafiadoras. Fomos várias vezes ao Espírito Santo, onde tive a oportunidade de escalar o Pico do Itabira, a Agulhinha Juliana e participar de uma nova conquista em andamento. Foi muito bom conhecer Edilso, Valdecir e todo pessoal do Espírito Santo com quem nós da Unicerj temos a maior alegria de escalar. Para subir o Itabira, tivemos que ir lá dois fins de semana. No primeiro, não conseguimos chegar ao cume, mas a excursão foi um grande aprendizado para mim, quando foi feita a regrampeação da Chaminé Edilso Debarba e a conquista da Descida Machado de Assis. Algumas semanas após, voltamos ao Espírito Santo e tivemos a felicidade de chegar ao cume do Itabira por esta belíssima escalada.

Vou passar logo para a terceira fase, embora tenha muitas excursões da segunda fase que eu poderia descrever, como o Paredão Che Guevara, com suas aderências quase impossíveis. A terceira fase começou em outubro de 2007 e só terminou agora em abril de 2008.

No Estágio Supervisionado, nós alunos tínhamos que pensar em tudo. Posso confessar a vocês que aí sim tivemos consciência dos grandes desafios. Os Guias Supervisores, quais anjos da guarda, nos ajudavam bastante, mas a iniciativa tinha que ser nossa o tempo todo e nós é que tínhamos que assumir as responsabilidades inerentes a um Guia.

Para a minha primeira excursão do Estágio, marquei logo de cara a Chaminé Stop. Foi a excursão para a qual eu mais me preparei. No entanto, logo no início, ainda no Caminho do Bem-te-vi, errei a entrada da trilha e fui advertido pelo meu Supervisor, Favre, formado na Escola de Guias anterior. Era a primeira vez que eu guiava a Stop e a primeira vez que ele supervisionava. Eu já tinha feito a Stop com segurança de cima. Agora guiando vi que é muito diferente. Deu tudo certo e agradeço as dicas muito bem-vindas do Supervisor, lembrando que uma vez formados deixamos de ser Guias Estagiários e precisamos estar preparados para as cruciais decisões como Guias.

Outra excursão que me ensinou muito foi um acampamento de três dias na Ilha Grande, quando vi o quanto é importante o planejamento para que tudo corra bem. Reconheço que poderia tê-la planejado melhor. Mesmo numa excursão aparentemente simples, há que se pensar em todos os detalhes.

Na Travessia Petrópolis-Teresópolis, requisito indispensável a todo aquele que pretende ser Guia da Unicerj, foi tudo bem e o pessoal caminhou sem reclamar os dois dias, até porque não dava para ver nada com o tempo que fez. Pelo menos não tivemos o sol escaldante do verão, que ficou escondido por trás das nuvens o tempo todo.

Não posso deixar de mencionar a Agulha do Diabo, ainda na segunda fase. Fomos eu, Kaercher e Santa Cruz, numa excursão de apenas um dia e ainda duplicamos três grampos. A primeira vez que a gente chega naquele cume, com o visual da Serra dos Órgãos à nossa volta, é algo que a gente não esquece. O mais perigoso foi voltar para casa dirigindo, pois estávamos todos muito cansados.

Foram muitas excursões e eu estou contando só algumas. Se eu fosse mencionar todas, a gente ia ficar aqui até amanhã de manhã. A Escola de Guias foi um aprendizado permanente para todos nós.

Espero, a partir de agora, ajudar a Unicerj no que estiver ao meu alcance, pois por aí deve haver os que sonham ser Guias, como eu sonhava quando conheci o Clube."

Natan foi o último dos novos Guias a apresentar o memorial na noite de sábado:

"Quando me deu vontade de praticar o montanhismo, vi que as opções não eram muito animadoras. A impressão inicial era de que teria que pagar algo em torno de R$ 600,00 só para fazer um Curso Básico. Foi aí que eu conheci o Leandro Chen, que me disse para eu aparecer na Unicerj, onde seria muito bem recebido.

Cheguei ao Clube numa quinta-feira às 20:30 horas e a sede tinha acabado de abrir. Encontrei o François que me apresentou o Clube e me convidou a participar das excursões. Tinha uma prancheta com a Pedra da Gávea e eu me inscrevi. A excursão foi muito boa. Quando chegamos lá em cima, um dos Guias tirou uma melancia de dentro da mochila. Foi o Buarque. E eu que pensava que era doido! Na quinta-feira seguinte, me associei ao Clube e fui fazer o CBM. Aí não parei mais.

Quando abriram as inscrições para a ETGE/2007, fui aceito como candidato a Guia Caminhante. Eu pretendia fazer o curso para Guia Caminhante e Escalador. Aí pensei: 'Tudo bem, o importante vai ser poder ajudar o Clube. Se for o caso, depois posso passar a Guia Caminhante e Escalador.' Logo na abertura da ETGE, na Torre de Bonsucesso, tivemos que fazer um treinamento de resgate descendo por aquela pirambeira toda. Vi que era bem mais difícil do que eu havia imaginado.

Pensava: 'Como será pela frente, se no primeiro dia já foi assim?' Para mim, essa excursão inaugural foi uma das mais marcantes da minha vida. Vi ali a dedicação dos Guias do Clube e o nível de comprometimento que esperavam de todos nós.

Na segunda fase, nos separamos um pouco, pois eu era candidato a Guia Caminhante. Uma das excursões mais incríveis que nós fizemos foi a tentativa de subir o Garrafão. Sofremos o diabo com a barraca inundada. Osiris e Rodrigo nos ensinaram muito naquele dia e estavam passando pelo mesmo sufoco que nós. Rodrigo chegou a ter princípio de hipotermia, mas todos sobrevivemos.

Outra excursão maravilhosa foi a Travessia do Parque Nacional do Caparaó em três dias. Nessa excursão subimos o Pico da Bandeira e depois, com a companhia de Edilso e Josias, fomos ao Pico do Cristal. Cheguei a ficar preocupado quando descemos por uma trilha muito pouco sinalizada, do outro lado do Cristal. Até hoje fico impressionado com o senso de orientação do Filipe. Pela primeira vez fiz uma excursão indo do Espírito Santo para Minas. Passei um frio que nunca tinha sentido na vida com temperatura abaixo de zero nas noites de acampamento. Hoje guardo com carinho tudo que conversamos e compartilhamos nessa incrível excursão.

Gostei muito também da palestra que a Celeste fez no Clube sobre o Caso Stop. Aprendi muito nos debates sobre esse tema que mostram a postura firme da Unicerj em defesa do montanhismo praticado com segurança.

Ter escalado os primeiros esticões do Paredão Mário Arnaud também me ensinou muito. Na ocasião, Bonolo me pediu para guiar na frente e eu vi que mesmo ali, na parte mais fácil daquela grande escalada, a responsabilidade de guiar é imensa, ainda mais que estávamos com vários principiantes, além da presença do Gustavo Benevides que, mais uma vez, nos mostrou o que é superação.

Veio então o tão esperado Estágio Supervisionado, onde nós deveríamos por em prática tudo que aprendemos nas duas fases anteriores. A exigência do Estágio justificou porque nós fomos tão exigidos durante um ano de atividades. Como Kaercher e Terra já contaram aqui, só quem faz uma Escola de Guias pode ter idéia dos desafios que precisam ser superados. Well e Carlos Henrique desistiram e todos sentimos muita falta deles. Sinceramente, teve horas em que eu também tive a sensação de que não iria conseguir. As dificuldades foram aumentando e, num dado momento, cheguei a pensar em desistir. Mas precisava honrar os Guias Caminhantes.

Na travessia no Parque Nacional da Bocaina, aprendi um bocado. Foi uma beleza completar essa travessia numa excursão de três dias.

É isso aí, pessoal, agora que estamos nos formando Guias da Unicerj, nos comprometemos a acolher as pessoas que estão chegando ao montanhismo. Vamos retribuir ao Clube tudo que ele fez por nós. A Escola de Guias foi um grande desafio para mim. Se fosse mais fácil não valeria a pena. Acredito que estou consciente das responsabilidades de ser Guia da Unicerj."

No segundo dia de festividades, domingo, continuaram as narrativas dos novos Guias. Rafael começou dizendo:

"Tanto eu quanto a Marina nos inscrevemos inicialmente para cursar a ETGE/2005, em setembro de 2004. Como na época havia sócios mais experientes do que nós, tivemos que esperar a ETGE/2007. Valeu a pena, pois amadurecemos bastante nesse tempo e acredito que tenhamos feito o curso no momento preciso.

As excursões mais marcantes para mim foram as que nós fizemos no Espírito Santo. Deu para perceber a forte amizade construída ao longo dos anos com Valdecir, Edilso e todos aqueles companheiros que compartilharam grandes excursões de nossa Escola de Guias.

De todas as excursões, a que mais me marcou foi a Chaminé Unicerj, que significou tanto para mim quanto a minha primeira ida ao Dedo de Deus. Era um sonho que eu tinha e nem sabia.

O Estágio Supervisionado foi onde mais aprendi. A Escola de Guias me ensinou muito. Aprendi a dividir as barracas no frio, a compartilhar o farnel, a me conhecer melhor para enfrentar os desafios e a me responsabilizar pelas pessoas. Quero agradecer a todos os Guias da Unicerj que se dedicaram à nossa formação. Agradeço também pela amizade que nos une."

Foi então a vez da Gabriela, que estava tão feliz por se formar que disse que tudo o que ela queria dizer já havia sido dito: "Na Escola de Guias, a gente sofre muito, mas compensa. Encontrei grandes amigos. Agradeço aos Guias e às pessoas que foram comigo nas excursões, principalmente o Buarque e o Rodrigo que me supervisionaram no Dedo de Deus e à Anete que participou das minhas piores excursões."

Marina foi a última a fazer seu memorial:

"Pois é, Escola de Guias é isso aí, uma luta permanente contra o tempo atmosférico e o tempo cronológico, pois precisamos aprender muita coisa. É preciso muita perseverança, pois em alguns momentos parece que não vamos conseguir. Na primeira fase, como já foi dito, parecia tudo muito tranqüilo. Na segunda fase, ficou bem mais pesado e o curso passou a exigir tudo de nós. E sem frescura. Isso para dizer o mínimo.

Quero contar para vocês a excursão que fiz ao Espírito Santo. Já na viagem de ônibus, durante a noite, eu fiquei remoendo um bom tempo: 'Eu tenho que dormir.' Mas estava tão ansiosa que pensava: 'Será que vou conseguir?' Afinal, estávamos indo escalar a Chaminé Unicerj, com Descida Filipe Alvarenga. E eu já tinha ouvido histórias escabrosas dessa excursão. Ao chegar lá em Atílio Vivacqua, eu vi que era assustadora mesmo e, no entanto, me acalmei.

Assim que saímos do ônibus, na rodoviária de Cachoeiro do Itapemirim, fomos recebidos pelo pessoal do Espírito Santo. Ainda nem havia acabado de amanhecer e nós subimos na carroceria de uma caminhonete com todas as mochilas. Aí o Josias, que eu estava conhecendo naquele momento, comentou: 'Essa menina também vai escalar com a gente? Ela não vai agüentar. A escalada que nós vamos fazer é muito, muito difícil.' Mas foi bonito. No fim do segundo dia, nós todos conseguimos completar a escalada da Chaminé Unicerj e assinar o livro de cume. Na Descida Filipe Alvarenga, foi o Josias que se emocionou. E não é para menos, pois é uma descida completamente diferente de tudo o que eu já tinha visto no montanhismo. Esta excursão foi muito importante para mim. Eu era a única mulher em nosso grupo de oito montanhistas. E no final ainda tivemos o famoso jantar preparado pelo Edilso.

Eu poderia descrever muitas outras excursões. A Escola de Guias foi muito legal. Quero agradecer a todos que se esforçaram para que hoje possamos nos formar Guias da Unicerj."

Os depoimentos acima são uma pequena amostra de tantos outros que marcaram esta grande celebração. São dez anos de fundação da Unicerj. No entanto, temos a certeza de que constituem apenas o início de uma grande história.

Da minha parte, 2008 foi um ano bastante conturbado, pois me vi pela segunda vez na vida afastado das montanhas.

Em 1978, sofri um grave acidente numa escalada considerada fácil, o Paredão Jorge de Castro. Vale ressaltar que eu já conhecia muito bem esta escalada, pois até aquela ocasião já havia subido a Agulhinha da Gávea 26 vezes por esta via, sem qualquer problema. Isso nos mostra o quanto o montanhismo é imprevisível e o quanto todos nós seres humanos somos frágeis.

Tive múltiplas fraturas em uma perna e precisei fazer duas cirurgias, o que me levou a ficar 13 meses afastado das montanhas. Depois disso, antes de voltar a escalar, tive que reaprender a andar. Ultrapassada essa dificuldade, posso dizer que tive a felicidade de viver estes últimos 30 anos entre verdadeiros amigos, compartilhando a prática solidária do montanhismo amador. Porém, com a passagem do tempo, seqüelas daquele acidente começaram a aparecer e, este ano, em maio, tive que ser submetido a uma nova cirurgia. Até o momento, por intercorrências desta cirurgia ainda estou usando muletas e provavelmente terei que passar por outra cirurgia.

Por tudo isso, solicitei o meu afastamento da presidência da Unicerj para poder concentrar energias em minha recuperação.

Embora esteja vivendo um período muito difícil em minha vida, tenho esperança de que voltarei às montanhas.

Santa Cruz


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