Boletim n°13 - Dez. 2008

Seminário de Guias

Foi realizado no dia 01/11/2008, sábado, o 3º Seminário de Guias da Unicerj, com 18 Guias presentes. A idéia do Seminário é reforçarmos a nossa União, realizando uma excursão apenas com Guias nesse dia. A excursão escolhida não foi uma escalada muito difícil, tampouco algo exigente tecnicamente. Apenas um espaço para conversarmos abertamente e sem hora para terminar, sobre o futuro do Clube e o cordão umbilical que nos une. Mas afinal o que nos une?

Essa foi a primeira pergunta que fiz aos presentes e a resposta não é simples. Cada um dos 18 Guias presentes deixou de fazer outra excursão ou mesmo de estar com a família para estar durante pelo menos seis horas discutindo os mais diversos aspectos do Clube. Mas por quê?

Penso que o Clube é também a nossa família e, logo, essa excursão também era um compromisso familiar. Alguns responderam que trocaríamos experiências das últimas excursões e mesmo ensinaríamos algumas técnicas. Outros que deveríamos estar pensando nos próximos anos do Clube, quando o Carlos Alberto prontamente pediu a palavra: “Creio que esse fórum deveria estar pensando nos próximos 50 anos do Clube”. E assim começou o Seminário.

A segunda pergunta chave do dia foi uma continuação da primeira. Se todos, individualmente, sabem por que estamos aqui, ainda que as respostas não sejam as mesmas, como devemos trabalhar a união do grupo sempre pensando o que é melhor para o futuro do Clube?

Lucia reforçou o quanto o respeito entre os Guias e a Diretoria é importante. A mesma confiança, amizade e amor que já temos em nossos Guias quando estão guiando excursões deveria ser fortalecida fora das excursões também. É importante pensarmos nisso com mais afinco, pois se queremos construir um futuro mais sólido (para os próximos 50 anos e mais), precisamos consolidar bem essa estrutura. E essa estrutura somos nós. Os Guias são o coração do Clube, a força motriz desse sonho que sonhamos coletivamente.

E, quando vislumbramos o futuro do Clube, precisamos pensar também em renovação. Devemos pensar em quem irá nos substituir no futuro e em como deixar as portas abertas aos sócios que tenham condições e estejam dispostos a fazer o Clube brilhar.

Como bem disse o Sayão, o nosso Clube “é a materialização de uma trajetória de luta que atravessa décadas, que sucumbe, dá uma cambalhota, mas não morre nunca, pela defesa de uma forma de montanhismo que acreditamos. O nosso Clube não é somente nossa sala, ele é, acima de tudo, o fio tênue de nossas idéias que nos envolve a todos. Nosso Clube é a nossa cordada que está costurada na amizade, no companheirismo, na humildade perante a montanha, na forma desprendida e fraterna com que nossos Guias transmitem a sua arte sutil, na alegria de compartilhar os segredos, as saliências e reentrâncias das montanhas e, sobretudo, no respeito à natureza e ao ser humano, sua criação mais preciosa.”

Muitas idéias foram levantadas no sentido de melhorar ainda mais a integração dos sócios no dia-a-dia da Unicerj. Palestras, exibição de fotos, filmes e até mesmo permitir a participação dos sócios em algumas das aulas teóricas da Escola de Guias, hoje exclusivas para os alunos.

Sabemos que muitos sócios querem voluntariamente trabalhar também, mas muitos não sabem como e nós Guias temos um papel importante em deixar esse canal aberto e mais transparente.

Naturalmente que o crescimento saudável do Clube no longo prazo depende também da segurança permanente nas excursões. Por isso, muito falamos de como nós podemos melhorar internamente essa questão, bem como reforçar ainda mais com a atual ETGE.

Nem tudo pode ser previsto, mas certamente podemos melhorar muito com uma boa programação. Uma programação antecipada por alguns meses, que nos motive, daquelas que deixam os olhos brilhando durante nossa semana de trabalho e que seja sempre variada. Uma programação que permita ao Diretor Técnico saber antecipadamente e até mesmo sugerir alterações para que fique ainda melhor. É como um casamento, pois todos precisam ceder um pouco de vez em quando para que o conjunto seja melhor. Afinal de contas, o piano a carregar é grande e pesado e, quando todos carregamos, fica muito melhor.

Ressaltei aos Guias, em especial aos recém formados, o quanto eles vão aprender com essa nova ETGE. Comentei que foi preciso que eu tivesse um filho para dar o devido valor à minha mãe. E assim será também com eles, quando começarem a ensinar aos alunos da ETGE, vão sentir o quanto é difícil transmitir algo que lhes pareça cristalino. E serão questionados pelos alunos sobre coisas que talvez não tenham pensado ainda e nesse processo perceberão que também estão aprendendo e que são paradoxalmente, ao mesmo tempo, professores e alunos.

Tivemos ainda uma parte dedicada ao aprimoramento técnico, em especial o rapel. Lembramos do acidente recentemente ocorrido com uma sócia de outro clube e reforçamos que esse acidente poderia ter acontecido com qualquer um de nós.

Reconhecemos o quanto é difícil balancear o binômio: segurança x tempo, ou seja, quanto mais segurança queremos, mais tempo levamos. Por outro lado, se demoramos mais para fazer com mais segurança, estamos expostos a outros riscos, como tempestades, e isso também reduz a segurança. Nesse sentido, várias recomendações foram feitas para aumentarmos ainda mais a segurança no rapel.

Nesse momento, Santa Cruz falou sobre as descidas, citando em especial os últimos acidentes que temos visto relatados e mostrando que o assunto tem um cunho muito mais ideológico e filosófico do que possa parecer. Muitos bons escaladores têm, de fato, aversão ao rapel e quase todos dão maior importância às técnicas de subida do que as de descida, como se o rapel fosse menos importante. O próprio fato de muitos aprimoramentos serem feitos em vias pequenas (boulders) ou mesmo em muros artificiais, facilita que as técnicas de subida sejam mais desenvolvidas. E, assim, não é raro vermos ótimos escaladores em vias tecnicamente desafiadoras descerem como principiantes. Porém, subidas e descidas são de igual importância e todos sabemos que, estatisticamente, as descidas são mais perigosas do que as subidas. Muitos erroneamente acreditam que a chegada ao cume é o fim da excursão e depois “só falta descer”, quando não custa lembrar que chegar ao cume quase sempre representa apenas 50% da excursão e que ainda falta muito para o fim. Não podemos esquecer a famosa frase da expedição chilena ao K2, de que “a verdadeira foto do cume é a que se tira na base, com todos de volta sãos e salvos”.

Já no encerramento das atividades, Bonolo falou da importância do fortalecimento não só da Unicerj, mas também dos demais Clubes de Montanhismo Amador, para que possamos ampliar o movimento a que nos propomos, de transformação da sociedade em que vivemos. Lembrou ainda do aniversário do CEB, que fazia 89 anos naquele dia.

Aos Guias presentes: Lucia, Santa Cruz, Buarque, Bonolo, Carlos Alberto, Cela, Rodrigo, Porto, Fabio, Osiris, François, Favre, Rafael, Marina, Gabriela, Natan e Kaercher, o meu sincero agradecimento por todas as contribuições e a certeza de que devemos caminhar juntos para que o Clube mantenha a chama acesa do Montanhismo Amador.

Esperamos, no próximo Seminário, contar com mais Guias da Unicerj presentes para fortalecer ainda mais a nossa União.

Leo



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