Boletim n°13 - Dez. 2008

Doadores de Amor

"A solidariedade não se agradece, comemora-se."
Betinho


No dia 25 de Outubro de 2008 a Unicerj levou ao Instituto Nacional do Câncer (INCA), 51 pessoas, a maioria sócios, para doação de sangue e para cadastramento no Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea.

Desejávamos promover um evento que saísse um pouco do contexto da montanha e que se mantivesse coerente com filosofia amadora e não competitiva de nosso do Clube.

Sabemos que certas iniciativas, ainda que com a melhor das intenções, acabam por reforçar certos preconceitos. Quando resolvi promover uma excursão ao INCA, confesso que fiquei preocupado. Seria efetiva esta iniciativa? Qual é o valor da iniciativa individual? Não havendo uma atitude crítica, um gesto de solidariedade pode se tornar um ato de caridade sem valor.

Também grandes projetos sociais financiados por grandes empresas podem facilmente corromper o objetivo a que se destinam. Nesse contexto, executivos travestidos de gestores sociais estão sempre ávidos de um grande cliente que financie seus projetos. Para estes pequenos gênios, nada além de suas redes globais tem valor. Nunca participam daquilo que não lhes oferece palanque e a solidariedade em nível individual é algo risível. A vaidade pode facilmente nos cegar aos valores realmente nobres.

Não é possível apenas pensar solidariamente, é preciso viver solidariamente, com o coração, com a razão, e sobretudo, com fé. Foi pensando sempre no equilíbrio entre um pensamento crítico da realidade que nos cerca e uma atitude mais solidária, que quisemos então contagiar outras pessoas com esses valores tornando-nos dignos de sermos unicerjenses. O que fizemos requereu uma responsabilidade igual a qualquer outra excursão.

Em certa ocasião acompanhava uma senhora que resolveu doar certa quantia a um menino que fazia malabarismos num sinal. Iniciou-se uma discussão acerca da validade daquele gesto. Ainda que acreditasse que aquele gesto em verdade fixasse o menino na rua ao invés de assisti-lo, pensei apenas que atitudes como aquelas são mais importantes para quem doa do que para quem as recebe. Em verdade, portanto foi o INCA que nos doou uma oportunidade de reflexão, de amizade, de carinho, de alegria e amor.

Nós possuímos a única matéria-prima necessária para curar outras pessoas. Esta matéria-prima não pode ser sintetizada, cultivada ou reproduzida. Tem que ser doada. Assim o fizemos. Alguns acreditavam não poder doar, nem sangue nem medula, pois já tiveram hepatite ou têm diabete. Souberam que podem sim doar medula aqueles que já tiveram ou tem estas doenças. Assim sendo, quase todos entraram para o cadastro de doadores. O maior valor da iniciativa foi seu caráter informativo, especialmente àqueles que estavam impedidos de doar. Alguns não puderam doar os 450 mL de costume. Alguns, mesmo no limite da idade para doação, estavam lá com suas carteiras de doador. Outros doadores habituais foram logo doar plaquetas, modalidade de doação que se pode realizar com muito mais freqüência.

Às 8h da manhã iniciou-se apresentação de um vídeo educativo acerca das enfermidades tratadas pelo INCA, em especial o câncer. Destacou-se evidentemente a importância da doação de medula como única cura possível à leucemia. Aprendemos, por exemplo, que a chance de um enfermo encontrar uma medula compatível com a sua é de apenas 1 para cada 100 mil. Ao vídeo seguiu-se uma rápida palestra proferida pela assistente social chefe do serviço de coleta. Tratou-se dos diversos tipos de doação, falou-se também de assuntos diversos e muitas dúvidas ficaram esclarecidas e preconceitos desfeitos. Concomitantemente iniciou-se a doação em si, composta de uma rápida triagem, entrevista de saúde e doação de material. Após a doação, serviu-se um lanche oferecido pelo hospital, além de um delicioso bolo farnel trazido especialmente para celebrar a ocasião.

A festa foi animada e o evento provou que descontração é compatível com solidariedade. Retornamos da excursão, merecedores do amor compartilhado daqueles que nada mais podem contar além da solidariedade humana.

Podemos amar a natureza, mas somente o homem é solidário.

Christian



UNICERJ - União de Caminhantes e Escaladores Rio de Janeiro - http://www.unicerj.org.br