Boletim n°15 - Ago. 2011

Festa do 12º Aniversário da Unicerj

Realizamos nos dias 17 e 18 de abril de 2010, no Quilombo da Kika, em Itaipuaçu, a Festa de Aniversário do Clube do ano passado.

Foi uma bela confraternização a que fizemos na casa da Ana Maria Couto e do Eduardo Neves, tios do Rafael, Guia do nosso Clube.

Nesta festa de dois dias, que contou com a presença de 80 sócios e convidados, tivemos a formatura de mais uma Escola de Guias, a ETGE/2009, após 18 meses de atividades que exigiram muito esforço e dedicação dos formandos e o acompanhamento e orientação permanente do Corpo de Guias do Clube. Também tivemos a conclusão do primeiro Curso Básico de Montanhismo de 2010, com discursos emocionados de formandos, Guias e de integrantes da diretoria do Clube.

Tivemos assim a celebração de mais uma etapa vencida na trajetória de brilho da Unicerj, visando a preservação do montanhismo amador em nosso país, praticado com responsabilidade e consciência ecológica e social.

Como já é uma tradição em nosso Clube, os novos Guias, antes da solenidade de formatura, fazem publicamente um resumo de tudo que vivenciaram, aprenderam e se apropriaram durante o curso, numa espécie de memorial resumido dos mais marcantes acontecimentos das excursões e atividades realizadas durante toda a Escola de Guias.

Roberto foi o primeiro a apresentar o seu memorial como novo Guia Caminhante:

“Sempre gostei de montanhas. Quando eu era criança gostava de subir em árvores, mas só descobri que também poderia subir montanhas e ver o mundo lá de cima quando me tornei sócio da Unicerj. O tempo foi passando e após ter feito o Curso Básico, fui aceito como aluno da ETGE/2009. O curso começou em outubro de 2008 e exigiu muito de todos os alunos. A Escola de Guias me ensinou muito. Quando eu comecei não tinha a menor ideia dos desafios que teria que superar para chegar até aqui. Se hoje eu estou me formando Guia da Unicerj devo isso ao espírito de cooperação fundamentada no MASENC e não à competitividade. Fiquei entusiasmado depois que tive a oportunidade de escalar o Dedo de Deus e fazer uma excursão de dois dias ao Garrafão, quando tivemos que andar muito, passar por uma gruta impressionante e fazer rapel antes da subida final que nos levou ao topo daquela montanha tão imponente com vista para toda a Serra dos Órgãos.

Ter feito a Escola de Guias foi um privilégio. Aliás, estar na Unicerj já é um privilégio. O que estou falando aqui hoje é extraordinariamente sério: na Unicerj a gente diverge, discute e acaba se entendendo (nesse ponto Roberto se emocionou). E ainda temos o sonho de conquistar montanhas, bem como uma Sede Própria que virá a ser uma âncora para o nosso Clube quando for concretizado. E só depende de nós.

Obrigado por tudo e contem comigo no que estiver ao meu alcance, pois todos aqui nos identificamos com os valores defendidos por este Clube.”

Tivemos então o memorial do Jeferson, também Guia Caminhante da Unicerj, formado pela ETGE/2009. Vamos ao seu relato resumido:

"Eu tinha pouca experiência de montanhismo quando me inscrevi como candidato à Escola de Guias em meados de 2008. Havia muitos interessados e eu fui um dos oito sócios do Clube aceitos, o que me deixou feliz e um tanto surpreso.

Tive muita dificuldade e no fim da primeira fase, que dura seis meses, procurei o Bonolo, Diretor Técnico, e disse a ele que estava pensando em desistir do curso, por estar muito mais pesado do que eu havia imaginado ao começar. Ele me deixou à vontade e me fez uma proposta: 'Faz a Travessia Petrópolis-Teresópolis, que é a última atividade da primeira fase, depois a gente vê'. Agradeço a ele por isso, pois eu precisava desse incentivo. Na Travessia, mais uma vez eu senti que precisava me empenhar de verdade para entrar na segunda fase da ETGE, que é muito mais intensa e exigente. Valeu a pena o esforço. Vieram então muitas aulas teóricas, reuniões de avaliação de desempenho e as mais diversas excursões que exigiram muito de todos nós. Olhando retrospectivamente dá para pensar na vida.

Uma Escola de Guias é infinitamente mais complexa que um Curso Básico. Vai muito além das técnicas relacionadas com o montanhismo. Isso porque, para que alguém possa guiar com segurança, tem que conhecer as técnicas que são necessárias mas não suficientes, pois um Guia tem que ser um líder todo o tempo para poder conduzir a excursão e tomar as decisões sobre a mesma.

Quando chegou a terceira fase, os seis meses de Estágio Supervisionado, ficou mais difícil ainda, pois nós alunos, agora Guias Estagiários, tínhamos que planejar, organizar e conduzir o grupo em cada excursão sempre com a presença e o acompanhamento de um Guia do Clube a nos supervisionar. Em alguns momentos, o medo era muito grande, mas sempre tivemos o apoio dos Guias em todas as atividades, muito atentos, cobrando iniciativas, ao mesmo tempo que nos davam dicas importantes para que pudéssemos resolver os problemas quando surgiam. Devo destacar que em todas as atividades supervisionadas encontrei não apenas supervisores, mas companheiros que compartilhavam todas as dificuldades comigo.

Tive a oportunidade de conhecer a Pedra da Gávea, guiando uma excursão do meu Estágio. Aí pensei: que lugar bonito esse. Quanta honra e quanta alegria poder estar aqui ajudando a trazer outras pessoas que como eu nunca haviam chegado a esse cume.

O curso é muito humano. Abre a sua mente e faz com que você preste atenção em tudo: nos lugares, nas situações, no tempo, em você mesmo e nas outras pessoas, o que nos obriga a ser mais responsáveis, organizados e até mesmo generosos.

Sou engenheiro. Fui ensinado para pensar cartesianamente, e lidar com o lado humano foi e é uma das coisas mais difíceis que existem, porque não existe regra universal. Para prosseguir na Escola de Guias, contudo, tive que ir além do pensamento cartesiano. No Estágio foi muito complicado cumprir todas as exigências, que são muitas, minuciosas e visam avaliar se temos condições de nos formar Guias. Confesso que a princípio fiquei um tanto assustado. Alessandra, minha mulher, mesmo estando grávida, me incentivou o tempo todo. Seu incentivo foi o que me fez prosseguir. Se hoje estou me formando Guia devo isso a ela.

Fora do Clube, em toda parte, o ambiente colaborativo não é o forte e prevalece o tempo todo uma competição desenfreada. Aqui na Unicerj é diferente. Aqui vivenciamos todo o tempo a solidariedade e o companheirismo. Posso assegurar que melhorei muito como ser humano ao cursar por um ano e meio a Escola de Guias da Unicerj e espero, como Guia Caminhante, poder ajudar ao nosso Clube, coerente com o ideal do MASENC.”

Passamos então ao memorial do Boulanger, Guia Caminhante e Escalador da Unicerj:

“Antes de entrar para a Unicerj fui sócio do Centro Excursionista Brasileiro, onde fiz o Curso Básico de Montanhismo que, como em todos os Clubes, ao contrário da Unicerj, é pago. E muito bem pago. Aqui na Unicerj todos os cursos constituem direitos dos sócios e não são cobradas quaisquer taxas, além da mensalidade, que é a contribuição que todo sócio faz para que o Clube possa existir.” Boulanger também nos contou que é escoteiro, tendo inclusive participado de vários Jamborees mundiais.

“Um dia”, conta ele, “fiquei sabendo pela Simone Mendes que tinha uma Travessia Petrópolis-Teresópolis marcada pela Unicerj. Era uma excursão do Rafael e da Marina, pelo Estágio da ETGE/2007. Estive na sede da Unicerj e, mesmo sem ser sócio, fui muito bem recebido pelo François, que era o Guia Supervisor da excursão. Gostei muito da camaradagem e resolvi me associar. Aos poucos fui descobrindo que a Unicerj é muito mais do que um Clube de Montanhismo. A gente ouve muito falar em solidariedade por aí, mas aqui nesse Clube, solidariedade é para valer mesmo. E está presente todo o tempo.

Ao iniciar a ETGE/2009, eu me inscrevi como candidato a Guia Caminhante e Escalador. Fui aceito, mas como candidato a Guia Caminhante. Mesmo assim, resolvi aceitar e me dediquei como a tudo que faço. Antes de iniciar a segunda fase, no fim de março de 2009, fui convidado a passar para Caminhante e Escalador. Aceitei e vi o quanto a ETGE da Unicerj é puxada. Na primeira fase as excursões tinham sido mais espaçadas e tranquilas. Para falar a verdade, nem tão tranquilas assim. Como constatamos na pesadíssima caminhada ao Morro das Antas, em Teresópolis, com bivaque próximo ao cume, que foi uma das excursões mais exaustivas de que participei, simplesmente porque tivemos que 'reinventar' o caminho.

Logo no início da segunda fase, machuquei a mão em uma excursão normal do Clube à Agulhinha Beija-Flor, no PNSO. Fiquei muito impressionado, pois nós estávamos a caminho do cume e, embora não precisasse, todo o grupo voltou comigo e me acompanhou ao hospital, onde fui medicado. Solidariedade é isso. A Agulhinha Beija-Flor, com suas escaladas e descidas, não ia sair do lugar.

Por causa desse pequeno acidente tive que ficar parado algum tempo, mas logo pude voltar em uma excursão ao Espírito Santo, que foi espetacular. Fomos muito bem recebidos pelos companheiros capixabas, Edilso e Josias. Como estava chuvoso, o programa foi alterado e no sábado fomos todos à Pedra Mãe. No domingo, apesar do dia amanhecer chuvoso, o grupo se dividiu e enquanto parte ia ao Frade, parte participava de uma conquista iniciada pelo Edilso, que ainda nos brindou com um delicioso jantar em sua casa antes de retornarmos ao Rio. Esta foi uma das mais marcantes excursões de nossa Escola de Guias, e teve a presença de todos os sete alunos, dos oito que iniciaram o curso em outubro.

A terceira fase do Curso, como já foi dito aqui, é bem mais complexa e completamente diferente das duas anteriores, pois temos que agir simulando como se já fôssemos Guias. Posso assegurar que o aprendizado, em todos os sentidos, é imenso. No fim dá tudo certo. Se ainda não deu é porque ainda não é o fim”.

Boulanger, usando um projetor e aproveitando que já havia anoitecido, mostrou então muitas fotografias das mais diversas excursões feitas pela ETGE/2009, nas suas três fases, desde outubro de 2008 até abril de 2010. Quando mostrou as fotos do mutirão ecológico de limpeza e manutenção de trilhas organizado pela Unicerj no PNSO, disse que se sentiu muito bem dando essa importante contribuição ao Parque.

No fim, fez um agradecimento aos Guias, tirando várias fotos da página do Clube na internet e reunindo-as em uma única projeção. Agradeceu também a todos os seus companheiros que com ele foram alunos da Escola de Guias, com quem compartilhou momentos que ficarão para sempre na memória e no coração.

Por último, fez um agradecimento especial a mim que me levou às lagrimas e só pude retribuir com um abraço apertado, pois não pude participar de nenhuma excursão da ETGE/2009 em função dos problemas de saúde que venho enfrentando desde fevereiro de 2008, quando fiquei impossibilitado de fazer caminhadas e escaladas.

Aí, lembrei-me que Boulanger esteve presente na última excursão que pude realizar. Foi exatamente no Estágio do Rafael e do Terra pela ETGE/2007, quando guiei uma cordada ao Platô da Ibis, no Pão de Açúcar, onde bivacamos.

Deixamos os três últimos memoriais para a manhã de domingo, pois quando Boulanger terminou de fazer sua apresentação já estava um bocado tarde. Além disso, as iguarias gastronômicas por todos preparadas começavam a ser servidas.

Anete, Guia Caminhante, foi a primeira a fazer seu memorial no segundo dia da Festa de Aniversário da Unicerj:

“Agradeço a todos que participaram da minha formação como Guia. Fiz muitas excursões marcantes. Já no Estágio Supervisionado, quando somos apresentados como alunos às maiores dificuldades e problemas que envolvem as atividades na montanha, tive que organizar uma caminhada com 40 participantes, mas eu estava de férias em Salvador na semana anterior. Minha conta de celular estourou com a organização da excursão. Fiquei preocupada com toda a preparação da caminhada, mas me acalmei quando meus Guias Supervisores disseram: 'Fique tranquila, nós vamos estar lá com você.'

Também foi uma grande alegria levar o Lucas, filho do Cela, à Pedra da Gávea. O menino adorou.

Durante a Escola de Guias nós temos que superar muitos problemas técnicos e pessoais. Antes do curso eu pensava: Como posso ser Guia se tenho tantas dificuldades de orientação na montanha?

Aos poucos percebi que não era a única com essa dificuldade, mas ao final vamos aprendendo a reconhecer sinais que antes nossos olhos não enxergavam e nossos ouvidos não escutavam.”

Veio então o memorial do Clair, como Guia Caminhante e Escalador:

“Há alguns anos fui obrigado a desistir da Escola de Guias que formou Osiris, François, Favre e Thiago: a ETGE/2005, que teve início em outubro de 2004 e terminou em abril de 2006.

Em 2008, me inscrevi novamente. No dia 11 de outubro eu estava no Morro da Babilônia, escalando o Paredão IV Centenário com o Boulanger numa excursão guiada pelo Kaercher e Terra, quando um telefone celular tocou e o Boulanger disse: “fui aceito na Escola de Guias e você também, Clair”. Lembro-me que comemoramos bastante.

Para todos aqueles que pensam em fazer a Escola, saibam que é muito intenso. Estou na Unicerj desde 1999 e ainda estou aprendendo. Para falar a verdade, leva a vida toda. Caminhar e escalar é fácil, difícil é assimilar a filosofia da Unicerj.

Logo na primeira excursão, em Salinas, quebrei um dedo. Não foi nada grave, mas doía muito e como não sabia se estava quebrado ou não, no segundo dia escalei assim mesmo a Caixa de Fósforos.

Uma vez recuperado, fiz com bastante tranquilidade as demais excursões da primeira fase que eu já conhecia quando participei da ETGE/2005. A segunda fase coincide com a própria temporada de montanhismo que vai de abril até setembro, nesses meses do ano costuma chover menos, mas em 2009 choveu pra burro. Foi um inverno muito atípico e muitas excursões tiveram que ser mudadas.

A excursão que participei ao Parque Nacional do Itatiaia (PNI) foi muito marcante. Itatiaia é sempre um fascínio, está no mesmo nível das mais belas regiões do planeta para a prática do montanhismo. Eu até tentava explicar para a Nádia, minha namorada, e a outros novatos o quão importante e especial era estarmos acantonados naquele abrigo. Pena que seja uma lamúria para se conseguir autorização da administração do Parque para pernoitar lá dentro. O PNI tem sido excludente ao extremo para receber montanhistas. Mas apesar disso, como nos anos anteriores a Unicerj realizou duas grandes excursões com acantonamento no Abrigo Rebouças, destinadas a ETGE e ao CBM e abertas aos demais sócios.

Durante a noite, sob aquele céu cravejado de estrelas, na varanda do Rebouças conversamos bastante sobre a ETGE, o Clube e os mais diversos assuntos. E pensar que na semana seguinte eu ia viajar para o Peru, na excursão de lua de mel do Buarque e da Gabriela. Acho que a gente não atrapalhou. Foi muito bom: montanhas de 6000 metros, conhecer a casa da família da Gabriela em Arequipa, caminhadas incríveis e paisagens deslumbrantes.

Acontece que ao chegar em Lima, para tomar o avião de volta ao Brasil, senti uma terrível dor na perna. Assim que cheguei ao Rio, procurei um médico que descobriu que eu estava com uma trombose na perna. Resultado: fiquei em uma CTI por três dias. Do céu para o inferno em poucas horas. Quando sai do hospital ainda me recuperando, o médico me disse: 'Você não pode fazer nada. Teve muita sorte. Casos como o seu, em 80% das vezes levam ao óbito.' Depois eu melhorei um pouco e ele disse que eu já podia trabalhar e ter uma vida normal, mas não fazer caminhadas nem escaladas. Aí eu perguntei: 'E por acaso isso é vida normal, doutor?' (Sei muito bem o que Clair sentiu e concordo plenamente com ele. Vida normal assim nem parece com vida, mas a gente tem que continuar vivendo).

Em dezembro de 2009 retornei às atividades, caminhando e pedalando um pouco. A Gruta Presidente, no PNSO, foi a minha volta às montanhas. Com grande atraso iniciei o Estágio Supervisionado. Havia perdido muito tempo e precisava recuperá-lo, caso eu quisesse me formar junto com meus companheiros de ETGE. Devido ao tempo de recuperação da trombose, perdi os primeiros meses do Estágio. Isso fez com que nos 18 fins de semana que faltavam para a formatura eu tivesse que estar 14 deles na montanha. A ajuda do Carlito foi decisiva. Ele fez um planejamento incrível compatibilizando as excursões com as datas disponíveis e os Supervisores. Então, o que parecia impossível se abriu como um céu para mim.

Comecei então, o Estágio, a terceira fase da ETGE. Durante mais de dez anos, como simples sócio, só precisei botar meu nome na prancheta, preparar o farnel e separar equipamento individual, chegar no ponto de encontro na hora, não me preocupar com mais nada e ser levado aos lugares mais incríveis. Agora me via do outro lado: planejando, organizando e procurando liderar da melhor maneira possível as excursões, pois já estava passando da hora de retribuir ao Clube o muito que recebi. Fiz duas excursões muito divertidas com o Willy me supervisionando, onde pude perceber, como sempre, seu grande potencial agregador.

No Paredão Augusto Ruschi, estava inscrito um participante que era inglês e eu não falo inglês. Aí mandei um torpedo para ele, em português, avisando que o horário da excursão havia mudado por causa do fim do horário de verão. O inglês não entendeu e acabou chegando uma hora antes ao ponto de encontro, mas ele não reclamou e confessou ter adorado ver o nascer do sol na Praia Vermelha. Nesta mesma excursão eu não estava acostumado a guiar e por isso não levei o número de mosquetões suficiente. Levei uma bronca do François e do Osiris que eram os meus Supervisores: 'Não chegou a comprometer a segurança, mas você deve planejar e organizar melhor suas excursões.'

A Chaminé Stop foi muito exigente para mim, principalmente, em termos de organização. Fiquei feliz em realizá-la. O mesmo aconteceu quando fui guiar o Dedo de Deus, onde tem que se levar em conta toda a logística, o condicionamento físico, técnico e psicológico dos participantes, o farnel, a água e evidentemente os equipamentos, sem contar com o tempo cronológico e atmosférico, ainda mais no verão com suas temíveis tempestades elétricas. A regrampeação e aferição do Paredão Penhasco Fantasma foi mais uma complexa excursão pela sua logística e aplicação técnica.

Fiz a Travessia com o Boulanger e a Anete. Boulanger é um gentleman. Ele é tremendamente organizado e aprimorou o croqui que o Tarcisio me deu. A última excursão do meu Estágio foi o Paredão Osvaldo Pereira, uma grande e belíssima escalada, que guiei sob supervisão do Leo. Durante a escalada, Leo e eu lembramos muito do Santa Cruz: 'Ele ia gostar muito de estar aqui conosco.'

Agradeço muito a toda a Unicerj - seu Conselho de Administração, Diretoria, Corpo de Guias e demais sócios - pela oportunidade de cursar essa Escola de Vida. Se você é um sócio do Clube, procure ler as Cartas Abertas, os Editoriais e os Boletins. Procure conhecer mais a história da Unicerj.”

Finalmente, chegou a vez do Carlos Henrique (Carlito), como Guia Caminhante e Escalador, o sexto e último formando da ETGE/2009, a apresentar o seu memorial:

“Assim como o Clair, esta foi a minha segunda Escola de Guias. Fui aluno da ETGE/2007, que formou os Guias: Natan, Rafael, Gabriela, Terra e Kaercher. Na ocasião, tive que abandonar o curso, pois não dispunha de tempo para me dedicar às exigências da ETGE.

A primeira fase do curso, como já foi dito, é relativamente tranquila. Nessa fase fiz o Dedo de Deus pela primeira vez em uma excursão guiada por Willy, Terra e Buarque. Gostei muito, pois é uma montanha simbólica para muitos montanhistas e para mim também. Eu já poderia ter ido lá antes, mas não tive pressa. Entrei para a Unicerj em 2004 e só escalei o Dedo de Deus em 2009. Valeu a pena ter esperado.

A Itatiaia, eu fui nas duas excursões seguidas com pernoite no Abrigo Rebouças. Numa dessas excursões não conseguimos chegar ao cume das Prateleiras e apesar disso as conversas que tivemos foram muito importantes para nossa formação. Aprendemos muito também quando escalamos a Agulha do Diabo, que é uma montanha impressionante. Olhando de baixo, quando nos aproximamos da base da escalada pela primeira vez, duvidamos que seja possível subir. Essa excursão de dois dias mobilizou muitos Guias e ainda tivemos a alegria de escalar a Chaminé Ricardo Cassin.

Durante todo o curso desenvolvemos o espírito de solidariedade, amizade e respeito.

Já no Estágio Supervisionado compartilhei com o Boulanger a responsabilidade de guiar o Dedo de Deus pela via Teixeira. Levamos uma hora e meia só para fazer um participante passar na difícil Chaminé Horizontal. Valeu a pena, pois todo o grupo chegou ao cume.

Na minha Stop pelo Estágio, o Supervisor seria o Rodrigo, mas ele chegou ao ponto de encontro muito gripado, moribundo até. O substituto era o Christian que aceitou me supervisionar mesmo estando fora de forma, pois não escalava há muito tempo. Nossa excursão demorou uma eternidade, mas acabou bem. Ao chegarmos à Praia Vermelha já havia vários companheiros nos esperando. Agradeço ao Christian por ter me supervisionado.

Com Bonolo também fiz excursões muito legais. A Travessia Petrópolis-Teresópolis, no Estágio Supervisionado da ETGE, é exigida tanto para Guias Caminhantes quanto para Guias Caminhantes e Escaladores e foi outra ótima excursão que fiz pelo meu Estágio.

A Escola de Guias é um aprendizado constante. Fiz muitos amigos nas duas Escolas de Guias que cursei, tanto dos colegas, quanto dos Guias, que muito nos ensinaram. Fica aqui um abraço para Luciana e Célia que não terminaram a ETGE/2009. Outras Escolas de Guias vão surgir e elas poderão, como eu, tentar novamente. Fico feliz por Clair estar se formando conosco, após ter superado com muita determinação problemas de saúde muito graves. Não seria justo ele ficar de fora.

Vamos ajudar a formar novos Guias para o Clube. É um esforço muito grande, mas vale a pena. O Clube investe muito nas Escolas de Guias. Limita as excursões para os outros sócios, pois em algumas excursões da ETGE são necessários muitos Guias. Isso durante boa parte do tempo. Como já disse, um esforço descomunal.

A Unicerj é um Clube de Montanhismo Amador por princípio. Tudo aqui é feito de forma voluntária. Inclusive a Escola de Guias, vital para o Clube, pois sem Guias não há excursões. Por isso acredito que estamos todos de parabéns. Agora, como Guias, temos como objetivo dar o melhor de nós a este Clube e formar novos Guias compromissados com Montanhismo Amador.”

Terminada a apresentação dos memoriais dos guias formandos, demos palavra à Luciana Kondo, que cursou a ETGE/2009 e que mesmo sem se formar veio prestigiar a Festa de Formatura:

"Não estou concluindo esta ETGE, mas quero agradecer a todos que me apoiaram...” Não conseguiu finalizar a sua fala, pois estava muito emocionada e foi cumprimentada por todos nós.

Nossos anfitriões, Edu e Ana, também fizeram uso da palavra e disseram que o Quilombo da Kika está aberto para outras festas da Unicerj. De fato, voltamos lá precisamente um ano depois, onde comemoramos o décimo terceiro aniversário no Clube.

Dos formandos do CBM-2010/1, apenas três puderam comparecer à Festa de Aniversário do Clube: Nereida Rezende, Pedro Chrispim e Carlos Freitas.

Nereida fez o seguinte depoimento ao receber o seu diploma de Curso Básico: "Quando eu era adolescente, meu pai disse que as três coisas mais importantes na vida são: sexo, poder e dinheiro. Aí eu pensei: não vou seguir por esse caminho e sim o caminho do amor, da igualdade e da felicidade. Então saí de casa, aos 18 anos. Fui para a Bahia e me dediquei a praticar capoeira em Salvador, porque já que eu não tinha um pai, quis ter um mestre pra me ensinar, como a gente vê nos filmes de kung fu. Atualmente, sou o meu pai e a minha mãe, mas é sempre maravilhoso ter irmãos e é isso que eu encontrei na Unicerj.

Quando a gente coloca a vida nas mãos uns dos outros, como em uma escalada, dá pra sentir fundo os valores da irmandade, que eu já tinha descoberto na capoeira, mas muito mais agora na Unicerj. Eu tenho o objetivo de me desenvolver como ser humano em todas as dimensões: corporal, mental, emocional, social e espiritual. E isso eu consigo aqui no Clube. Corporalmente porque as atividades são exigentes. Mentalmente devido à técnica (os nós, o manejo do equipamento), as tomadas de decisão. Emocionalmente porque apesar da gente viver em um mundo de inveja, ciúme, competição e de às vezes a gente brigar por uma posição, já que não ter a sua ideia aceita nos dá a sensação de não ser visto, não ter identidade e cada um de nós estar sujeito a cair nestes pecados, na Unicerj sempre haverá companheiros mais centrados, em cada momento, para nos tirar destes enganos, baseando-se nos valores nobres e bem definidos do Clube. Socialmente porque a Unicerj busca uma organização social justa, diferente, baseada no consenso. E espiritualmente porque estar na natureza já é se fundir com o todo e na Unicerj eu posso ser eu mesma sem ter que usar máscaras. É muito bom poder me identificar com esse Clube. Eu amo esse Clube."

Houve um momento de silêncio respeitoso antes que todos cumprimentassem Nereida por suas belas palavras.

Passamos então a palavra a Pedro Chrispim, o segundo formando do CBM presente, que assim se dirigiu aos presentes: "Eu já havia feito trilhas em outro Clube e, ao me tornar sócio da Unicerj, pude constatar a diferença na orientação e na amizade. Descobri o significado do MASENC na prática. Aqui aprendi a ser solidário. Muito obrigado a todos".

Por último, Carlos Machado fez o seu discurso de formatura: "Quando comecei a praticar montanhismo me disseram: 'tem um lugar lá no Largo do Machado onde você vai ser bem recebido'. Apareci numa quinta-feira e me convidaram para participar de uma excursão. Gostei muito. Logo me associei e fui convidado a fazer o CBM. Descobri que a técnica sem companheirismo e amizade não satisfaz. A amizade, a confiança e a lealdade, é isso que vale a pena. Agradeço aos Guias Osiris, Bonolo, Buarque, Gabriela, Christian, Natan, Porto e François. E também à Nereida aqui ao meu lado, super companheira. Aqui na Unicerj é solidariedade o tempo todo, dos mais ao menos experientes. A Unicerj é uma cadeia de solidariedade."

Terminada a formatura do CBM, com a sombra maior, pois o sol já estava mais baixo, montamos uma mesa com a bandeira do Brasil ao fundo para que fosse feita a formatura da ETGE/2009. Tivemos então o Hino Nacional e ouvimos as palavras do Leo, Presidente da Unicerj:

"Quando fundamos a Unicerj, em 1998, acreditávamos nos valores sintetizados na sigla MASENC. Passados doze anos, continuamos a acreditar nos mesmos ideais. E o mais importante, ao compartilharmos esse tesouro, encontramos pessoas que têm ajudado a preservar a mesma filosofia e o mesmo ideal. A beleza está nos olhos de quem vê. Vamos então à formatura". Os diplomas foram sendo entregues aos novos Guias com muitas fotos e alegria.

Marcos, Vice-Presidente, também se dirigiu aos presentes dizendo: "Desde que fundamos o Clube, a gente aprendeu muito, aliás, já vínhamos aprendendo antes. A gente não está preocupado com o que pensam de nós. Queremos ser respeitados como todas as outras pessoas e instituições. Na Unicerj, procuramos fazer o melhor, mas somos apenas seres humanos. Na Unicerj, a gente conta um com o outro todo o tempo. É o certo, é o correto. Aqui concretizamos nossos sonhos."

Lucia, Diretora Social do Clube, agradeceu aos donos da casa e a todos os sócios que ajudaram a preparar esta festa tão bonita. "Doze anos se passaram desde que fundamos esse Clube e nós prosseguimos com o mesmo entusiasmo e a mesma paixão." Lucia parabenizou também os formandos: "A gente conversa muito sobre vocês, mesmo os Guias que não estão podendo estar nas montanhas. Dá para ver o crescimento de vocês e isso é muito importante para o nosso Clube. Precisamos de todos para fortalecer a nossa União."

Pouco antes do encerramento, Bonolo dirigiu-se aos presentes, em especial aos formandos do CBM e aos novos Guias. Contou a história de um sócio novo que reclamava o tempo todo das excursões programadas: “Ele ia olhando as pranchetas na sede e ia dizendo: 'essa eu já fiz, essa outra também. Já fiz, já fiz...' Aí foi falar com o Rodrigo pedindo que ele abrisse uma Chaminé Stop. Rodrigo, que tinha ouvido suas lamúrias, respondeu: 'Chaminé Stop... já fiz.'

Osvaldo costuma dizer que um diploma é um papel pintado com tinta. Mas, esses aqui da Unicerj que vocês receberam hoje, simbolizam nossa dedicação ao Montanhismo Amador praticado com segurança e o compromisso com o que cada um de nós acreditamos.

Hoje tenho a honra de ser o Diretor Técnico do Clube. Posso testemunhar as dificuldades que vocês tiveram, que nós tivemos que superar juntos, nessa Escola de Guias. Eu não me lembro de outra ETGE que tenha sido tão difícil quanto esta, talvez porque nas anteriores eu fosse apenas um Guia. O importante é que no futuro, a ETGE/2009 serão sempre vocês: Anete, Boulanger, Carlos Henrique, Clair, Jeferson e Roberto.”

Vários outros dirigentes, Guias e sócios também fizeram discursos entusiasmados, inclusive eu. E como já é uma tradição em nosso Clube, Tarcisio fez o encerramento da solenidade.

Vida Longa e Próspera para a Unicerj!

Santa Cruz



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