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Quinta-feira, 25 de abril de 2024

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Boletim n°5 - Nov. 2000
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Editorial

Chaminé Brasil e Via Grito das Andorinhas

Muito tem se falado e comentado sobre um suposto direito de conquista na Torre Central de Bonsucesso. Há vários anos esta polêmica gravita no imaginário de muitos montanhistas e, vez por outra, é usada por algumas pessoas, que provavelmente nunca tenham feito esta escalada, para acusar deslavadamente a UNICERJ de ser protagonista de grampos surgidos clandestinamente nas mais diversas vias de escalada. Algumas vezes, estas acusações são recheadas de ofensas desonrosas, oriundas, talvez, de recalques reprimidos dos seus missivistas.

Em primeiro lugar, antes de narrarmos a nossa história vivida na Conquista da Chaminé Brasil, é imperativo esclarecer e reafirmar duas posições:

A UNICERJ, através dos seus Boletins, das três Cartas Abertas, da sua página - www.unicerj.org.br - e das listas de discussão da Internet, sempre tornou público suas ações e a sua visão do Montanhismo, declarando, expressamente, as vias conquistadas e as que foram regrampeadas. Sob esta tônica e por princípio de caráter, todas as nossas iniciativas foram, são e sempre serão públicas. Qualquer notícia a respeito de grampos batidos em vias de escalada, que não sejam confirmadas pela UNICERJ, são meramente insinuações maldosas e inverídicas.

O segundo ponto é que, em nenhum momento, após tomarmos ciência, deixamos de reconhecer que Alexandre Portela e Sergio Tartari subiram a Torre Central de Bonsucesso, com seus próprios estilos, conquistando a Via Grito das Andorinhas. Contudo, precisamos esclarecer, em definitivo, a controvérsia que persiste até hoje com relação as Torres de Bonsucesso.

Em 1991 iniciamos uma conquista em uma fenda gigantesca localizada na Torre Central sem saber que por ali haviam passado Alexandre Portela e Sergio Tartari inegavelmente dois exímios escaladores.

Durante boa parte de nossa ascensão, não encontramos qualquer sinal de que por ali alguém houvesse passado. Após dez investidas que exigiram dezenas de grampos e os mais diversificados equipamentos móveis de escalada, consumindo o melhor de nossos esforços, avistamos a 8 metros distante lateralmente donde estávamos, um grampo localizado a 150 m da base das fissuras e a mais de 200 metros da base da montanha.

Temos um estilo cauteloso, mas uma coisa é certa: após concluída a conquista nós teríamos voltado lá várias vezes, com segurança, para fazer a Chaminé Brasil. Esta sim foi a escalada que conquistamos e nos orgulhamos do que fizemos.

No entanto, Sergio Tartari e Alexandre Portela, provavelmente, instigados por pessoas invejosas que se dizem montanhistas e escaladores, mas não gostam das montanhas nem das pessoas, foram lá e destruíram a nossa escalada "mais de 90 grampos arrancados a golpes de marreta". Destruíram a Chaminé Brasil e a possibilidade de escalarmos a via que conquistamos.

Até agora a única versão divulgada é que, nós da UNICERJ roubamos a conquista, mas nós temos a consciência tranqüila. Não roubamos a escalada de ninguém. A Via Grito das Andorinhas e a Chaminé Brasil foram conquistadas em estilos diferentes. Têm inclusive pontos em comum, e só.

Mesmo com 90 grampos arrancados a montanha continua lá. Isso mesmo, os grampos foram retirados da Chaminé Brasil, mas a Torre de Bonsucesso continua lá, impávida. E se algum dia quisermos voltar, nós podemos bater todos os grampos que foram arrancados. Nada pode impedir. Não precisamos nem de máquina de furar, como não a usamos nas 23 investidas que foram necessárias para vencer e regrampear a Torre Central ao nosso estilo, que pode não ser arrojado e certamente não é temerário, mas é nosso.

Uma das 23 investidas da Cha. Brasil Para algumas pessoas que nunca estiveram na base dessa escalada ou até mesmo nem sabem direito onde ficam as Torres de Bonsucesso, os 112 grampos que batemos constituem um mal em si mesmos. Contudo, se fossem lá escalar, certamente costurariam todos esses grampos e ainda teriam que utilizar muito material móvel.

A Chaminé Brasil não era um "artificial fixo", e sim uma via natural, que apesar da dificuldade extrema foi conquistada com toda a segurança que achamos conveniente para subir e descer todas as investidas.

Agora, com todos os grampos que foram arrancados a escalada voltou a ser um exercício de temeridade e desrespeito à vida. Quem se habilita? Naturalmente, não são os detratores que falam muito e pouco realizam, que no exercício de sua subserviência aos padrões irracionais que tentam impor a todos os montanhistas, só rarissimamente vão à montanha e quase sempre em escaladas seguras.

Não estamos nos referindo a Alexandre Portela nem a Sérgio Tartari, que são grandes escaladores. Falamos dos que não ousam ir à montanha ao seu estilo, pois muitas vezes nem estilos possuem, mas se realizam com os feitos dos grandes escaladores que emulam. Estes montanhistas de salão, não passam de burocratas do montanhismo. São intendentes, condestáveis, que se acham donos da ética que definem e redefinem ao seu bel prazer, para saciar a ânsia momentânea do poder, pretendendo estabelecer normas e regras, mas não pegam no pesado, não fazem conquistas nem regrampeações. Não gostam de acampar nem de viver em contato com a natureza, mas falam e escrevem sobre a natureza, com uma intimidade que nunca tiveram. Bivaque para essa gente é um horror e pernoitar num cume é uma experiência tão rara em suas vidas que já nem se lembram da última vez. Agem como se estivessem todos os fins de semana na montanha. Essa gente que posa de grandes escaladores não merece a menor credibilidade dos verdadeiros montanhistas. Suas experiências são na maioria das vezes só de ouvir falar, pois desconhecem o vento glacial das encostas vertiginosas; o sol escaldante que exige perseverança e paciência para suportar; a chuva miúda que dói nos ossos e a tempestade elétrica ensurdecedora e apavorante.

Gente que pouco ou nada fez pelo montanhismo, mas age como se fosse um referencial de sabedoria que não possuem, em palestras, artigos e listas de discussão pela Internet, agindo como verdadeiros oráculos do montanhismo, deturpando fatos, mentindo desbragadamente, até para si mesmos, pois agem como se tivessem ódio e desprezo pelos seus semelhantes. Para estas pessoas movidas pela inveja, para quem a vida é um deserto sem qualquer oásis, só resta o lixo da história. Vivem com objetivo de impedir que a história avance, mas acabarão tragados inexoravelmente por ela.

A cegueira dessas pessoas cresce com a atual tendência neoliberal em que o mercado foi entronizado como a esfera maior da sociedade. O que farão quando descobrirem que a mercantilização do sublime está com os dias contados? Quem viver verá.

Ao escrevermos este editorial estamos tentando trazer fatos sobre o que realmente aconteceu no início dos anos 90 na Torre Central de Bonsucesso. Não somos usurpadores de conquistas alheias como algumas pessoas querem nos impingir. Temos uma trajetória como conquistadores com mais de uma centena de escaladas que têm sido sistematicamente realizadas por nós e por outros montanhistas, programadas com freqüência em todos os Clubes de Montanhismo, e mais: afirmamos e reafirmamos o que fazemos, sejam conquistas ou regrampeações. E assinamos os nossos nomes embaixo.

Não temos a pretensão de que as pessoas que não gostam de nós venham a gostar. Ninguém é obrigado a gostar dos outros, mas deve haver respeito.

Em 02/05/97, quando estávamos em Salinas numa das excursões de regrampeação da Via Sylvio Mendes, fomos interpelados incisivamente por Sergio Tartari, que participava de uma outra excursão. Ele discordava da restauração que estávamos fazendo na via original do Pico Maior de Friburgo que, em sua opinião, deveria ficar relegada a via de descida. Ele, inclusive, ameaçou retirar todos os grampos que batemos e viéssemos a bater na Sylvio Mendes. Naquele fim de semana, coincidentemente, tivemos a ventura de concluir a regrampeação desta fantástica escalada. Provavelmente por trás de tudo estava a Torre de Bonsucesso que paradoxalmente nem foi mencionada.

Christian, Sta. Cruz e Borges no final da Cha. BrasilDois dias depois, retornando à base do Pico Maior, voltamos a nos encontrar e conseguimos conversar cordialmente, quando reconhecemos a primazia dele e Alexandre Portela nas Torres de Bonsucesso. Diante da nossa postura, ele afirmou textualmente: "Então para mim está tudo resolvido." Estendeu sua mão e nos cumprimentamos. Acreditávamos, assim, que a Via Grito das Andorinhas e a Chaminé Brasil poderiam coexistir em harmonia.

Qual não foi a nossa surpresa quando, nos meses seguintes, em 1997, surgiram dois textos reacendendo a polêmica envolvendo a Torre Central de Bonsucesso. O primeiro publicado no boletim do Centro Excursionista Petropolitano em outubro de 1997 e outro no periódico Mountain Voices em abril de 1998.

Embevecidos de sentimento rancoroso e palavras ofensivas à reputação do grupo que participou da conquista da Chaminé Brasil, estes textos pretenderam induzir a opinião pública afirmando fatos parciais como única expressão da verdade. Na época, indignados com tamanhas impropriedades, solicitamos à Mountain Voices o direito de resposta ocupando o mesmo espaço da matéria assinada por Sergio Tartari, o que nos foi negado. Também interpelamos a Diretoria do C.E. Petropolitano solicitando a devida retratação, o que também não ocorreu. Pensamos, inclusive, em recorrer à Justiça para resguardar nossa honra, o que, infelizmente, não fizemos, mas ainda poderemos vir a fazer.

Os textos citados afirmam, falsamente, que já tínhamos conhecimento prévio da existência da Via Grito das Andorinhas e que estaríamos disputando a primazia da conquista.

Entre tantas divergências de estilos e de opiniões, citamos uma passagem do texto publicado na Moutain Voices que, a nosso ver, nos remete para uma profunda reflexão a respeito do futuro do Montanhismo: "o saldo foi de quase 90 grampos arrancados, ficando somente os da parada (infelizmente)" - grifo nosso. Então uma escalada não deve nem ter grampos de descida?

A montanha não irá sair do lugar. Tudo isso é efêmero perante a grandeza das montanhas, a generosidade do ser humano e a beleza da vida. Nos referimos, de coração, aos Guias amadores ou profissionais, aos montanhistas escaladores sócios dos Clubes de Montanhismo ou não, que tem paixão pelo montanhismo e pela natureza, devotando boa parte de suas vidas caminhando, escalando, rappelando e fazendo conquistas.


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