Busca
 
 

Fale conosco! fale conosco!

Calendário



« DESTAQUES »

Formatura do CBM/2023

Antecipação da Reunião Social

NOTA DE REPÚDIO

Carta ao PARNASO

CURSOS

As Descidas Vertiginosas do Dedo de Deus (2a Edição)

Carta Aberta aos Montanhistas do Rio de Janeiro e à Sociedade

Diretoria e Corpo de Guias

Equipamento individual básico

Recomendações aos Novos Sócios



Quinta-feira, 28 de março de 2024

Você está em: BoletinsBoletim n°6 - Nov. 2001
Boletim n°6 - Nov. 2001
Descida Milton Santos‹‹ anterior 
|
 próxima ››Paredão Guilberto Hippert

Nova Conquista No Pico Maior De Friburgo

Paredão Mateus Arnaud

Croqui


O Pico Maior de Friburgo, em Salinas, dispõe de uma nova via de escalada. Trata-se do Paredão Mateus Arnaud que é um presente para o meu filho. Esta escalada inicia-se à direita e um pouco abaixo da base da Face Leste e segue paralelamente a esta via, cruzando com a mesma antes do início da segunda chaminé e prosseguindo diretamente até o cume da montanha por outra chaminé à esquerda, muito bonita por sinal.

Embora o Paredão Mateus Arnaud tenha sido conquistado há algum tempo, só agora está sendo divulgado pois foram necessárias várias excursões de regrampeação para colocar a escalada dentro dos padrões de segurança que considero aceitáveis. Trata-se de uma escalada bastante técnica e com elevado padrão de segurança. Ao contrário do que desejam alguns escaladores que gostam de se arriscar, acredito que seja possível conciliar a técnica com a segurança. A elevada dificuldade do Paredão Mateus Arnaud e sua grande extensão constituem motivos suficientes a uma criteriosa grampeação que, acredito, não tirará a emoção de todos àqueles escaladores que forem lá verificar o que estou dizendo.

Somente nos dias 12 e 13 de outubro conseguimos voltar a Salinas para concluir os trabalhos de regrampeação do Paredão Mateus Arnaud. E nesta data notamos que alguns grampos tinham sido arrancados desta escalada. Talvez tenha sido feito por alguns escaladores que desconhecendo a existência da via, não soubessem que ali se tratava de uma nova escalada e fizeram isso sem qualquer critério ou informação. Estas pessoas que arrancam grampos das escaladas acham que podem impor aos demais montanhistas e escaladores, formas condenáveis de escalar que beiram o suicídio. Se tivessem mais respeito à diversidade de estilos e à própria liberdade que deve haver no montanhismo, não se preocupariam tanto em preservar um hipotético "Estilo Salinas", que segundo estas mesmas pessoas constituiria um "padrão de grampeação brasileiríssimo de conquista". Ora, isso não faz qualquer sentido, e mesmo que houvesse um "Estilo Salinas", o Paredão Mateus Arnaud conquistado por mim Mario Arnaud, Rafael Woljcik, Ildinei Oliveira de Souza e Alex Sandro Ribeiro (Chê), em Agosto 1998 , cuja regrampeação foi concluída neste mês de outubro, representa a exceção ao famigerado padrão de grampeação tipo Salinas, que ninguém é obrigado a seguir.

O Paredão Mateus Arnaud é uma escalada totalmente independente da Face Leste, embora compartilhe de dois platôs com a mesma (apresenta uma distância de 4 a 5 metros separando uma via da outra neste trecho) e a cruza antes da última chaminé, situação idêntica a que ocorre em muitas outras escaladas, sem ferir quaisquer suscetibilidades (portanto não dá o direito de tirar algum grampo desta via com desculpa de ser da Face Leste, pois são vias totalmente independentes e distantes uma da outra). Vale dizer que os grampos subtraídos da escalada que conquistei já foram prontamente recolocados e serão mantidos onde estão.

Não é possível que tenhamos que conviver em nosso país com um empobrecimento tão grande e um desrespeito que obrigue todos a escalarem montanhas segundo padrões estabelecidos por uns poucos que pretendem ditar o que é certo e o que é errado. Há os que querem se arriscar, muito bem, que se arrisquem a vontade. Mas não venham querer obrigar todos os escaladores a correrem os mesmos riscos. Isto não é razoável, não é democrático, não é aceitável, nem respeita a pluralidade do montanhismo. O que vejo é a maioria dos escaladores sendo esmagados por uma falsa hegemonia que simplesmente não existe.

Tenho 42 anos e escalo montanhas desde os 9 anos de idade. Já participei de muitas conquistas, centenas. Sou Guia do Centro Excursionista Brasileiro, CEB, desde 1977 e já escalei em vários países das Américas e Europa. Me considero um bom escalador e nos últimos 27 anos participei de conquistas representativas do montanhismo em nosso país, como os Paredões Waldemar Ferreira (Waldo), Alfredo Maciel, Luiz Arnaud, Vilma Arnaud, Grande Leste, CEB 60; a Chaminé Almy Ulissea; o Diedro Salomyth; a Pedra do Lagarto; a Via dos Italianos; a Fissura Jayme Quartim, o Paredão Rio 92, entre outras.

O fato de escalar bem não me dá o direito de tornar minhas escaladas temerárias. Quero ir à montanha para compartilhar as maravilhas da natureza e o companheirismo dos amigos de cordada. Não se trata de impor a ninguém a minha forma de escalar. Quem quiser que faça as suas escaladas perigosas e super arriscadas. Só tem um detalhe: Isso não têm nada ver com a técnica. Técnica é outra coisa.

Aos que desejarem escalar uma belíssima via - modéstia à parte - no Pico Maior de Friburgo e com toda a segurança, eu convido que experimentem fazer o Paredão Mateus Arnaud. Todos nós que infatigavelmente participamos da conquista, ou da regrampeação, nos orgulhamos do trabalho realizado. Quem preferir escaladas arriscadas e até mesmo temerárias não tem qualquer problema. Há uma porção delas, inclusive no Pico Maior, que são belas e que eu gostaria de realizar, porém não me sinto a vontade.

Acredito que toda esta variedade de estilos seja saudável e permita que o montanhismo possa evoluir livremente preservando a liberdade que há de prevalecer no coração de todos os montanhistas.

Mario Arnaud


Participaram da regrampeação do Par. Mateus Arnaud os seguintes montanhistas: Leo, Sta Cruz, Valdecir, Edilso, Godinho, Buarque, Rafael e Mario Arnaud.


Descida Milton Santos‹‹ anterior 
|
 próxima ››Paredão Guilberto Hippert

Versão para impressão: