Boletim n°8 - Dez. 2003

Carta dos Alunos da ETGE 2003 aos Guias da UNICERJ

Rio de Janeiro, 8 de dezembro de 2002

Para os Guias da UNICERJ

Dos Alunos da ETGE 2003

Caros amigos,

E foi então que resolvemos escrever uma carta pra vocês, guias da UNICERJ. Uma carta que também falasse de gratidão, de alegria, de energia transformadora e de descobertas. E pra que vocês possam entender bem o que a gente quer dizer com isso, queremos começar falando do passado. Queremos revisitar as lembranças, as recordações de muito tempo atrás. Vocês num tempo de pouca experiência, nenhuma técnica, mas de uma descoberta emocionante: a do encantamento da montanha.

Dá pra imaginá-los caminhando as primeiras trilhas, descobrindo a pedra. Os sustos, os escorregões, o vento no rosto. Os companheiros. A camaradagem. Dá pra adivinhar o olhar que mede a via, da base, prevendo os desafios. E a chuva, o sol - os raios também. O bivaque improvisado. As risadas na noite. Dá pra sentir a alegria pelo mosquetão novo, pela primeira sapatilha. As fissuras, os diedros, as chaminés. O tempo que se expande. E dá também pra perceber os olhos, as mãos, os ouvidos, o corpo todo atento aos ensinamentos dos guias, aqueles homens que eram um pouco a própria montanha.

E se vocês podem voltar àquele tempo, e se vocês podem se emocionar com essas lembranças, então também podem compreender o que estamos sentindo, e o que estamos descobrindo agora.

Sentados aqui, em torno dessa mesa de reunião improvisada, num domingo de sol à tarde, depois de escalar no Pão de Açúcar, ainda com as roupas sujas, todos os olhos brilham. Um sorriso discreto, que se espalha, leve, pelos rostos, lembra a sensação de vitória. A melhor vitória - aquela sem derrotados. Ganhamos todos. Mais uma etapa ultrapassada, um outro desafio vencido - um ponto a mais na prancheta.

Osvaldo, Leo e Buarque estão aqui com a gente, discutindo as próximas atividades, o que a ETGE tem pela frente. Presentes dez alunos da Escola de Guias. Estamos unidos pela vontade, pela cumplicidade e pela determinação. Queremos todos escalar muito, todas as montanhas do mundo, se possível! Mas também queremos levar adiante essa semente de ética, de ecologia, de respeito à vida que vocês plantaram - e parece que o terreno é fértil! Queremos levar pessoas à montanha, com segurança, pelo puro prazer de estar na montanha. Queremos exercitar a solidariedade e ensinar a muitos aquilo que vocês tem nos ensinado - e que aprenderam de outros que vieram antes.

É o que estava no ar. É o que todos, mais ou menos, sentíamos. Então por que não falar? Então por que não dizer "somos gratos"? Então por que não demonstrar o quanto nos encanta essa convivência? Então por que não dizer o quanto é importante tudo que temos experimentado? Surgiu a idéia da carta.

E aqui está ela. É a nossa homenagem a vocês. Ao Willy, em cima da árvore, se preparando para guiar o lance da Maria Cebola. Ao Koiller, na base do Escalavrado, olhando a via encantado e passando a corda. Ao Leo, pura técnica, lado a lado com os iniciantes, ensinando a subir de prussik, no Campo Escola do Grajaú. À Sônia, mochila enorme nas costas, chegando ao platô da Íbis pra pernoitar. Ao Osvaldo, mestre de todos, de braços abertos pro sol, no cume da Agulha do Diabo. Ao Marcos, estudando, concentrado, o lance seguinte na Sylvio Mendes. Ao Christian, falando, falando, falando, no Salão Azul. Ao Cassio, pura tranqüilidade na Travessia dos Olhos, num dia de muito vento. Ao Kenji, elegante, guiando um grupo barulhento na Parque Lage-Corcovado. Ao Zaib, recostado na mochila, no cume do Dedo de Deus, cumprimentando os companheiros que chegam. À Lucia, sorridente, dando segurança de ombro no Leila Diniz. Ao Leandro, esbanjando experiência, no Diedro Infernal. Ao Buarque, imbatível em bom-humor e solidariedade, na Travessia Petrópolis-Teresópolis. Ao Filipe, ensinando o caminho da Maria Comprida. Ao Borges, fenômeno em qualquer parede. Ao Tarcisio, contando histórias do lance do "rebola", na Jorge de Castro. Ao Godinho, rindo como um menino, na Luiz Arnaud. Ao Prado, expansivo, na Travessia da Neblina. Ao Sayão, vencendo ágil o artificial do CEPI. Ao Hugo, armando pacientemente os móveis nas fissuras do Olimpo.

E aqui está também um pedido e um convite. Continuem presentes e nos dando o apoio que precisamos, continuem destinando ao clube essa parcela de generosidade que o leva pra frente, continuem guiando, nos ensinando as vias. Porque, no final de contas, é essa experiência, é esse convívio, é esse aprender e ensinar que faz com que nós, os apaixonados pela montanha, nos tornemos, a cada dia, pessoas melhores.

Um abraço, de todos nós.

Excursão de abertura da ETGE/2003 no Capacete, em Salinas



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