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Domingo, 28 de abril de 2024

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Cha. Stop
Excursão realizada em 19/05/2002 com 7 participantes
Local: Pão de Açúcar
Classificação: Escalada Difícil
Guia(s): Santa Cruz, Willy e Godinho

Participantes:

1) Godinho
2) Santa Cruz
3) Willy
4) Carlos Eduardo (CELA)
5) Fabio Fonseca
6) Fernando Stavale
7) Rodrigo Souza


No dia 19 de maio fomos escalar a Cha. Stop no Pão de Açúcar, numa excursão previamente programada pela UNICERJ.

Nosso objetivo era levar pessoas que nunca tinham feito chaminés a esta escalada, que hoje constitui, inequivocamente, a verdadeira escola de técnicas em chaminés na cidade do Rio de Janeiro.

Marcamos o encontro na Praia Vermelha às 06:00 horas, como de costume, para que pudéssemos dispor de todo o dia para e subir e descer pela chaminé, visto que o bondinho do Pão de Açúcar encontra-se temporariamente inoperante.

Os Guias das três cordadas foram Santa Cruz, Willy e Godinho. Neste dia, os três participantes teriam a oportunidade de fazer pela primeira vez a Cha. Stop.

A excursão foi bem demorada como prevíamos e quando já nos encontrávamos na última terça parte da escalada, constatamos a presença de outros escaladores que acabavam de chegar ao Salão Azul, bem abaixo de nós.

Vale ressaltar que nós os avisamos que desceríamos pela chaminé e ouvimos a saudação deles de que tinham entendido o que havíamos dito.

No final da escalada, alguns participantes que subiram por último disseram ter ouvido ruídos característicos de quem bate grampos (ou os arranca).

Horas após, já bastante cansados do esforço, constatamos estarrecidos que aqueles dois ou três escaladores arrancaram nove grampos da escalada.

Não só os futuros escaladores da Cha. Stop correrão um risco desnecessário, como também tivemos que nos arriscar desnecessariamente no nosso regresso à base pois quebraram inclusive os grampos duplos dos pontos de parada a começar pelos que existiam no Salão Azul.

A única alternativa para o prosseguirmos a descida foi a utilização de uma árvore onde montamos o rapel, o que é sabidamente perigoso e "antiecológico", pois a árvore sofre as conseqüências no recolhimento da corda.

Ainda não sabíamos se essas pessoas haviam deixado algum grampo mais abaixo e estávamos preparados para, se necessário, deixar todas as quatro cordas que dispúnhamos unidas para retornar à base. Mas o que aconteceria se fôssemos só dois escaladores com apenas uma corda?

Mais abaixo, verificamos, que outros grampos localizados em lances cruciais da Cha. Stop foram também suprimidos por esses escaladores que, de modo negligente, estão tentando impor o estilo que lhes agrada. Há também o agravante de que, pelo fato da destruição não ter sido divulgada, colocar outros escaladores em sérias dificuldades. Todos nós sabemos que a Cha. Stop, mesmo com todos os seus grampos, já é suficientemente perigosa para todo escalador sensato. Agora ficou temerária. Quem já guiou a Chaminé Stop, sabe do que estamos falando.

Quando chegamos à base já estava escurecendo e nossa exaustão era muito mais psicológica do que física (e esta última não era pequena), pois durante a descida, não sabíamos se os arrancadores de grampos, tinham deixado algum para que pudéssemos chegar à base.

Num mundo de tantos absurdos como o que todos nós somos obrigados a viver, com violências, traições, torpelias e maldade em profusão, não é nada absurdo vários grampos sendo sistematicamente arrancados durante uma excursão quando estes escaladores que perpetraram esta ignomínia sabiam, perfeitamente, que nós iríamos precisar deles para descer.

Os jovens escaladores que conosco compartilharam este dia inesquecível, no bom e mau sentido, puderam verificar, in loco, um atentado terrorista contra todos os montanhistas do Rio de Janeiro.

Quem será o responsável pela ameaça à integridade física e porque não dizer à vida dos que escalam por prazer e não para provar que são superiores?

Os que foram na Cha. Stop neste domingo arrancar grampos, tinham como único objetivo destruir a possibilidade do montanhismo florescer como espaço saudável de alegria e liberdade. Não conseguirão.

Quando chegamos ao Caminho do Bem-Te-Vi, doze horas após havermos partido, tínhamos um sentimento misto de alívio por havermos sobrevivido e amargura por conviver num país e numa época tão sórdida e tão egoísta.

Mas, reflitamos porém (em especial aqueles que já guiaram esta escalada), por que somente arrancaram nove grampos. Por que não arrancaram todos? Por que arrancaram os grampos duplos de parada? Por que ao invés de arrancar os grampos, simplesmente não os ignoraram fazendo a escalada sem utilizar as proteções fixas, nos seus próprios estilos? Isto denota claramente a necessidade de impor as próximas cordadas um estilo único e arriscado. Não estamos falando de capacidade técnica para guiar com poucas proteções e sim se vale a pena correr esse risco desnecessário.

Não é a primeira vez que os grampos da Stop foram arrancados. Evidentemente que os grampos serão rebatidos, mas precisamos fazer muito mais do que rebater grampos, fazer caminhadas e escaladas. Não podemos reproduzir acriticamente o que tenta-se impor como regra por aí e nem nos omitir pois não temos vocação para escravos.


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