Manutenção do Par. CEPI
Em 1968, Carlos Henrique Tibiriçá, na época Guia recém formado do Clube Excursionista Carioca (CEC) e Bira, hoje Guia da Unicerj, levaram José Carlos Lemos de Moraes, Jorge Ferreira da Silva e eu para nossa primeira escalada, o Paredão CEPI. Foi paixão à primeira vista! Bira, José Carlos, Jorge e eu éramos alunos do Curso Técnico de Estatística da Escola Nacional de Ciências Estatísticas (ENCE) e o Carlos Henrique, aluno do Colégio Pedro II e companheiro nosso do Movimento Estudantil que fervilhava naquele ano.
Naquela época escalava-se com uma corda naval torcida, amarrada na cintura, com mosquetões sem rosca e alguns bacalhaus de corda serviam de solteira. Para dar segurança e descer usava-se um oito feito artesanalmente com vergalhão de obra.
O Paredão CEPI, via ferrata conquistada em 1952 pelo Centro Excursionista Pico do Itatiaia, foi a terceira via conquistada no Pão de Açúcar e um marco do montanhismo para a época. No entanto, esse Centro Excursionista, assim como tantos outros Centros criados nessa época, teve uma vida curta e já não mais existe. Apesar de diversas manutenções terem sido realizadas nos anos e décadas subsequentes, em 1999 a via se encontrava em completo estado de abandono e a Unicerj decidiu trocar todo o cabo de aço da via.
Entre junho de 2000 e novembro de 2001 foram feitas 25 investidas para a troca integral dos cabos. Vale ressaltar que boa parte das investidas poderia ter sido evitada se tivéssemos conseguido a colaboração da Companhia que administra o bondinho para ajudar a transportar os cabos até o cume. Porém na época, a autorização não foi concedida. Desde então foram feitas mais 12 excursões específicas para a manutenção da via. Nas excursões normais costumamos levar na mochila uma chave de boca para reapertar as porcas de fixação do cabo que estejam frouxas.
Em 3 de outubro de 2009, Luciana Kondo, supervisionada pelo Buarque, guiou o Par. CEPI, sua primeira excursão pelo Estágio da Escola de Guias. Nesta excursão foi constatado, no último lance horizontal, o estado crítico do cabo totalmente danificado pela umidade constante daquele trecho. Este cabo havia sido trocado em 12 de março de 2005 em excursão da Unicerj com Borges, Cela, Santa Cruz, Willy, François e Sergio D’Oliveira (estes dois últimos, colegas meus da ETGE/2005).
Desta vez, o Buarque amenizou o problema colocando um cordelete emendando os dois pedaços do cabo que estavam ligados somente por alguns poucos fios, mas a urgência de uma correção definitiva era visível.
Na noite do dia 7 de outubro de 2009, quarta-feira, fomos Buarque, Gabriela e eu ao CEPI para fazer um conserto provisório nesse trecho. Trocamos o cordelete que emendava o cabo por um pedaço de corda, soltamos o cabo danificado de um lado e o deixamos pendurado do outro, para posterior recolhimento. Substituímos e remanejamos a fixação do cabo do trecho vertical que chega a esse ponto, pois ele se prendia originalmente ao cabo horizontal retirado e estava preso a menos de 1 cm de sua extremidade superior.
No dia 11 de outubro de 2009, em uma tarde de domingo, após alguns dias de chuva, voltamos Buarque, Gabriela, Boulanger, Anete (estes dois, alunos da ETGE/2009), Elisangela Lima, Rogerio Lamour e eu, para mais um dia de trabalho. Instalamos um cabo novo, revestido com uma mangueira para resistir à umidade e fixamos outro cabo maior no topo do penúltimo esticão (que termina nesse lance horizontal).
Como os demais cabos que instalamos no CEPI, esse cabo também não era novo. Ele havia sido obtido pelo Clair (aluno da ETGE/2009) com a empresa que fez a manutenção dos elevadores no seu local de trabalho. Apesar de, preventivamente, não poderem mais ser usados em elevadores, esses cabos são perfeitamente adequados às vias ferratas por seu calibre e pela carga muito menor a ser suportada.
Por sorte não precisamos levar esse pesado cabo para cima, pois o Porto havia feito contato com a Administração do Pão de Açúcar e conseguira uma carona no bondinho de carga na sexta-feira anterior, o que nos ajudou bastante.
Na sexta-feira anterior, Buarque, Gabriela e eu fizemos uma reunião no Clube para planejar o trabalho a ser realizado e no sábado Buarque e Gabriela foram comprar as peças necessárias e algumas ferramentas. Compraram também um pedaço de cabo de aço mais fino e, com a ajuda do Natan, cobriram-no com uma mangueira plástica para evitar o contato direto do cabo com a pedra.
Instalamos esse cabo e retiramos a corda que fora colocada provisoriamente, bem como o cabo velho que foi levado para cima.
Numa verdadeira força-tarefa levamos o cabo novo para baixo. O cabo foi fixado no topo, ficando pendurado ao lado do cabo velho para substituição em outra excursão, pois vínhamos trabalhando sempre em pequenos turnos e fins de tarde para não interferir com outras atividades em andamento no Clube.
Na noite do dia 13 de outubro de 2009, terça-feira, fomos François e eu reforçar a fixação do novo cabo com mais um clipe.
Faltava ainda fixar o novo cabo vertical nos grampos e retirar o antigo. Assim, no dia 18 de outubro de 2009, domingo à tarde, fomos Buarque, Gabriela, Carlos Henrique (aluno da ETGE/2009) e eu para nova empreitada.
Trocamos as fixações em quatro pontos e retiramos um trecho do cabo de aço velho. Preparamos o tramo superior para ser rebocado para cima, mas não deu tempo de fazê-lo, pois estávamos em cima da hora de pegar o último bondinho.
No dia 22 de outubro de 2009 tirei um dia de férias e junto com o Porto e o Marcos Dias, que estavam de folga no trabalho, retornamos ao CEPI bem cedo via Costão. Descemos até o ponto onde havíamos trocado a última fixação e a partir dali descemos fixando o cabo novo e soltando as fixações do velho cabo.
Três grampos abaixo chegamos em outro ponto crítico. Ali, os dois pedaços de cabo estavam ligados por uma corrente e a fixação no grampo estava bem precária, com uma barafunda de clipes, manilhas e correntes enferrujados. Após fixarmos o cabo neste ponto descemos mais dois grampos até o platô da via Cisco Kid. Quando lançamos o cabo no dia 11, o trecho inferior havia ficado todo enrolado nesse platô e constatamos que a fita e mosquetão usados para conduzi-lo para baixo haviam sido furtados.
Continuamos descendo trocando as fixações, até acabar o cabo novo, três grampos abaixo. No segundo grampo termina o cabo que vem da grutinha, fixo com uma volta passada pelo grampo e abaixo desse ponto deixamos o cabo novo e o velho superpostos.
O cabo novo mede aproximadamente 60 metros e ficou preso em 13 pontos. Depois rebocamos o cabo velho, com cerca de 50 metros, para cima e mais um pedaço de cerca de 5 metros que não fora retirado na última excursão. Foram mais de 10 horas de excursão somente nesse dia, totalizando 25 horas de trabalho e mobilizando 12 pessoas em 5 investidas.
Foi com base no ideário da prática do Montanhismo Amador, Solidário, Ecológico e Não Competitivo que levamos adiante esse trabalho, com o objetivo de colocar essa clássica via de escalada em condições ideais de segurança.
Que as novas gerações de montanhistas possam ter as mesmas emoções de apreciar a beleza do Rio de Janeiro visto do Par. CEPI.
Osiris
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