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Sexta-feira, 26 de abril de 2024

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Boletim n°16 - Abr. 2012
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Ecologia Humanística: Uma Ecologia que leva em conta o Ser Humano

"Teus risonhos lindos campos têm mais flores;
Nossos bosques tem mais vida,
Nossa vida no teu seio mais amores.
Ó Pátria Amada, Idolatrada, Salve! Salve!"

Aproveitando o feriado da Proclamação da República, no dia 15 de novembro, marquei minha palestra e o churrasco de confraternização com arrecadação de fundos para a Campanha da Sede Própria em Miraflores. Ambas as atividades foram supervisionadas pelo Santa Cruz, em meu estágio pela ETGE/2011.

O tema da palestra foi o mesmo da Festa Modular: “Ecologia que leva em conta o ser humano”.

Ousei falar sobre Ecologia, pois desde que conheci o Clube, venho debatendo o tema com o Bonolo, muitas vezes de forma calorosa. Porém, ao longo do tempo de convivência com ele e os demais Guias do Clube, fui aprendendo que a visão distorcida de preservação que os meios de comunicação nos passam pode contribuir para que grande parte da sociedade esteja excluída de nossos parques e florestas.

Isso porque, cada vez mais, nos deparamos com restrições e cobranças de taxas justifi cadas por órgãos ambientais para a manutenção destas áreas. Nos Parques Nacionais, por exemplo, o caminho seguido por muitos gestores é limitar o acesso da população, tanto físico, quanto pelos perversos valores exigidos para que uma família conheça o local, utilize suas trilhas e respire o ar puro da montanha. Se os muros da floresta estão ficando progressivamente mais altos, mais atrativos se tornam os shoppings e os computadores, nos quais nossos jovens passam horas.

Infelizmente não vivi os dias em que os montanhistas se espalhavam pelos diversos cumes de nossos Parques Nacionais. Mas sempre senti na voz daqueles que me contam estas histórias uma intensa saudade e certa apreensão sobre o que ainda está por vir. Sem a experiência de meus mestres, explico porque “tomava partido” desta atual forma de gestão do Meio Ambiente: achava que, como diversos direitos primordiais — saúde, educação e segurança — não eram adequadamente disponibilizados para a população, a melhor forma de gerir os parques seria uma cobrança diferenciada para a proteção de nossas belezas. Lembro-me de usar o Parque Nacional do Iguaçu como exemplo, e compará-lo com empreendimentos comerciais de sucesso.

Muitas pessoas devem se perguntar se esta não seria a melhor forma de proteger nossos rios cristalinos, nossas espécies raras e a vida de nossos bosques, se os famosos planos de manejo não são a grande sacada para se definir pequenos locais de recreação e deixar o resto sob os cuidados da União. No entanto, comecei a perceber que, no longo prazo, não iremos garantir a sobrevivência do verde das matas da nossa bandeira. Ora, se as melhores experiências em planejamento indicam que ele deve ser participativo, não adianta esperar que a decisão sobre todas as placas de “PROIBIDO” que vemos por aí sejam “engolidas a seco, goela abaixo” sem envolvimento dos maiores interessados. Se quisermos, realmente, deixar esta riqueza para os nossos filhos, será preciso ensiná-los a amá-la. E a gente só pode amar e defender o que conhece.

Quando eu ainda acreditava que nossos recursos naturais poderiam dar lucro — se os parques fossem como as empresas — fiz uma viagem com a Unicerj à Patagônia Argentina e conheci o Parque Nacional Los Glaciares. Neste dia eu chorei emocionada, assim como sempre choro em todas as vezes que me recordo das palavras (e do amor presente nelas) da funcionária do parque que nos recebeu na entrada da cidade de El Chaltén. Por quinze minutos ela descreveu as trilhas, as lagoas, os animais que encontraríamos. Havia tanta paixão na voz daquela Guarda-Parque! O lugar mais lindo que já vi na vida, sinalizado, preservado e cuidadosamente mantido de forma gratuita pelo governo e seus voluntários.

Naquele momento eu finalmente entendi que não existe e jamais deve existir relação entre o valor que damos às coisas e o quanto pagamos por elas. Não existe preço que pague a sensação de chegar aos pés do Fitz Roy ou do Cerro Torre. Assim como ver as Cataratas do Iguaçu, os Dois Irmãos de Fernando de Noronha e a vista do Garrafão na Travessia Petrópolis-Teresópolis.Cito os três últimos por serem os lugares mais impressionantes que já conheci no Brasil, mas também porque, ao visitá-los, sequer fui recebida por um guarda-parque. Estes lugares integram um roteiro (“eco”) turístico conhecido por muitos estrangeiros (e por menos de 1% da população brasileira), enquanto precisariam, necessariamente, constar no conteúdo programático de, pelo menos, as escolas que fi cassem no mesmo estado.

Isso seria um sonho impossível? Felizmente, não. É um sonho perfeitamente possível. Tem que ser! Mas cada cidadão, assim como a iniciativa privada, deve entender o papel fundamental que possui, não se omitindo em um cenário com tantas restrições e normas incoerentes.

Contudo, mesmo que o nosso patrimônio natural padeça das mazelas da administração pública altamente burocrática e despreparada, em muitas situações ainda não é em todo Parque Nacional do nosso país que se precisa estar com os bolsos cheios para ser acolhido. Em uma das minhas mais recentes andanças com o Bonolo, tivemos o prazer que conhecer o Parque Nacional da Serra do Itajaí. E não foram apenas as belezas do lugar ou a entrada gratuita que nos deixaram com vontade de percorrer 1000 km, do Rio de Janeiro a Blumenau, para repetir a visita mais vezes. Tivemos a felicidade de conhecer um gestor que, cuidadosamente, nos orientou sobre o local com um carinho e amor que eu só havia visto uma vez e que, novamente, me tocaram profundamente.

Ao chegarmos à sede do Parque, o Sr. Mario Sérgio nos atendeu e fez questão de explicar o cronograma de manutenção, sinalização e abertura de trilhas ao público. Ele ressaltou que onde existem visitantes, há menor espaço para transgressores. Além de orientações sobre o material necessário, vestimentas, nível de dificuldade e cuidados específicos sobre a trilha que iríamos fazer, ele nos mostrou fotografias dos pontos marcantes. Quando percebeu que tínhamos experiência, pediu que o informássemos após a caminhada sobre o que poderia ser melhorado na trilha. Esta forma de conduta nos aproximou do Parque, diferentemente do que estamos acostumados por aqui. Deixamos Blumenau com a sensação de que aquele Parque também dependia de nós para existir, assim como dependemos dele.

Por esse motivo o ECOLÓGICO está presente no “E” do MASENC que tanto falamos na Unicerj e na Escola de Guias. Junto com esta palavra, encontram-se as demais que relacionam o indivíduo a este contexto, completando o sentido do nosso ideário, o qual devemos transcender para a nossa vida.
Elis


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