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Sexta-feira, 26 de abril de 2024

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Boletim n°16 - Abr. 2012
Fisiologia do Exercício e o Montanhismo, parte III‹‹ anterior 
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37 anos depois

Apesar de já ter completado algumas vezes a Travessia Petrópolis-Teresópolis, desta vez tentamos completá-la e tivemos que nos contentar em acampar nos Castelos do Açu e voltar de lá. No passado, conforme relatado no Boletim nº 8, de dezembro de 2003, tentei várias vezes e nunca a completara. Desta vez, em 17 e 18 de março de 2012, a Simone estava guiando essa Travessia pelo seu estágio da ETGE, tendo como supervisores o Boulanger e eu, os alunos do CBM Agnes D’Alegria, Ivan Kuck e Isabela Araujo, os alunos do CIM André Favero e Pedro Diniz e os convidados Danilo Hollanda e Norma Leal.

Infelizmente não pudemos prosseguir depois dos Castelos do Açu, pois choveu a noite toda e havia muita cerração, prejudicando a orientação na segunda e mais extensa parte da caminhada.
Na subida, quando passávamos pela Pedra do Queijo, resolvi tirar uma foto similar a uma antiga de 1975, quando eu e três colegas de trabalho fizemos esse mesmo percurso. Vieram-me à memória, então, as excursões que fizera no passado. Lembrei-me das dificuldades da época e também das facilidades.

Naquela época o material era sofrível, não havia calçados adequados para uma caminhada pesada e as mochilas não eram confortáveis. Para o farnel só havia enlatados e para termos uma refeição quente precisávamos levar fogareiro a álcool ou levar um bujãozinho de gás. Sequer tínhamos saco de dormir e levar uma barraca lá para cima era proibitivo, dado seu peso e volume.

Subíamos para Petrópolis de ônibus na sexta-feira à noite. De lá seguíamos num ônibus urbano até Corrêas e, como não havia transporte até o início da Travessia, começávamos a andar dali mesmo. Caminhávamos boa parte da noite até chegarmos à Gruta Presidente, onde dormíamos para seguir na manhã seguinte rumo aos Castelos do Açu.

Felizmente, naquela época não se pagava nada para fazer a Travessia. Hoje, a taxa a ser paga é escorchante para boa parte da população. Isso tem afastado muitos daqueles que gostam de montanhismo e não dispõem de recursos suficientes.

Nos Castelos do Açu, há muito tempo atrás, alguns montanhistas abnegados construíram um abrigo rústico, formado por três paredes de pedra sob uma das pedras dos Castelos e era lá que se bivacava.

Às vezes, quando chegávamos ao Açu, já tinha algumas pessoas acomodadas no abrigo e, da mesma forma que num coração de mãe sempre cabe mais um, nos aboletávamos e dividíamos o espaço com os outros caminhantes. Com o frio que fazia, quanto mais gente lá dentro maior era o calor a ser repartido. Não havia outra opção, seria quase impossível dormir ao relento. Ou a gente se espremia no abrigo ou tínhamos que voltar.

Naquela época era bastante comum encontrarmos dento do abrigo alguns víveres que sempre socorriam os recém chegados, como sal, açúcar, velas, fósforos que eram deixados por outros montanhistas. Havia então um grande espírito de companheirismo e, assim como frequentemente encontrávamos algo que podíamos usar, procurávamos deixar lá aquilo que poderia ser útil, até vital para os que viessem depois.

Às vezes se encontrava uma barra de chocolate ou uma caixa de fósforos dentro da urna de um livro de cume qualquer. Essa mesma camaradagem acontecia também, por exemplo, no Abrigo Rebouças em Itatiaia, onde havia outro personagem camarada, o Guarda-Parque, ou até mesmo na orelha da Pedra da Gávea, outro lugar onde costumávamos bivacar.

Lembro-me da generosidade do montanhista que levou cimento e tijolo para a orelha da Pedra da Gávea e construiu ali uma pequena barragem para coletar a água que escorria pela pedra. Lamentavelmente nos tempos de hoje, com tantas facilidades, essa camaradagem não existe mais, pelo menos naquele nível.

É necessário, portanto, resgatar o espírito montanhista solidário que existiu tempos atrás em prol de uma convivência harmoniosa na montanha.
Osiris


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